FARMACOLOGIA CLÍNICA AVANDIA
Farmacodinâmica
Mecanismo de Ação
A rosiglitazona, um membro da classe tiazolidinediona de agentes antidiabéticos, melhora o controle glicêmico, aumentando a sensibilidade à insulina1. A rosiglitazona é um agonista2 potente e altamente seletivo para os receptores gama ativados pelo proliferador de peroxissomo (PPARγ). Em seres humanos, os receptores PPARγ são encontrados em tecidos-alvo importantes para a ação da insulina1, como tecido adiposo3, músculo-esquelético e fígado4. A ativação dos receptores nucleares PPARγ regula a transcrição de genes responsivos à insulina1 envolvidos no controle da produção, transporte e utilização de glicose5. Além disso, os genes responsivos a PPARγ também participam da regularização do metabolismo6 de ácidos graxos.
A resistência à insulina7 é um aspecto comum que caracteriza a patogênese8 do diabetes tipo 29. A atividade antidiabética de rosiglitazona foi demonstrada em modelos animais de diabetes tipo 29, nos quais hiperglicemia10 e/ou tolerância prejudicada à glicose5 é uma conseqüência da resistência à insulina7 em tecidos-alvo. A rosiglitazona reduz as concentrações de glicose5 no sangue11 e reduz a hiperinsulinemia12 em camundongos obesos ob/ob, camundongos diabéticos db/db e rato Zucker obeso fa/fa. A rosiglitazona também previne o desenvolvimento de diabetes13 evidente em modelos de camundongos db/db e ratos gordos diabéticos Zucker fa/fa. Além disso, a rosiglitazona previne o desenvolvimento de proteinúria14 e dano renal15 em ratos Zucker e aumenta o teor de insulina1 pancreática em camundongos db/db e ratos ZDF tratados.
Esses dados foram preditores do efeito clínico em pacientes com diabetes tipo 29 que foram tratados com Avandia®, seja como monoterapia ou em combinação com sulfoniluréias16 ou metformina17. Observou-se um aumento da sensibilidade à insulina1 (redução da resistência à insulina7) e um aumento da função das células18 beta após 26 semanas de tratamento com Avandia® utilizando o modelo de avaliação da homeostase (HOMA). Nesses estudos, reduções nas concentrações plasmáticas médias do produto da divisão pró-insulina1 também foram observadas.
Em modelos animais, a atividade antidiabética da rosiglitazona demonstrou ser mediada pela sensibilidade aumentada à ação da insulina1 nos tecidos do fígado4, músculo e tecido adiposo3. A expressão do transportador GLUT-4 de glicose5 regulada pela insulina1 aumentou no tecido adiposo3. A rosiglitazona não induziu hipoglicemia19 em modelos animais de diabetes tipo 29 e/ou intolerância oral à glicose5.
Farmacocinética e Metabolismo6 da Droga
A concentração plasmática máxima (Cmáx) e a área sob a curva (AUC20) da rosiglitazona aumentam de maneira proporcional à dose ao longo da faixa de doses terapêuticas (Tabela 1). A meia-vida de eliminação é de 3 a 4 horas e é independente da dose.
Tabela 1. Parâmetros Farmacocinéticos Médios (DP) para Rosiglitazona após Doses Orais
Únicas (n = 32)
Absorção
A biodisponibilidade absoluta da rosiglitazona é 99%. As concentrações plasmáticas máximas são observadas cerca de 1 hora após a administração. A administração de rosiglitazona com a alimentação não resultou em alterações na exposição total (AUC20), mas houve uma redução de aproximadamente 28% em Cmáx e um prolongamento em Tmáx (1,75 hora). Estas alterações provavelmente não são clinicamente significativas; portanto, Avandia® pode ser administrado com ou sem alimentos.
Distribuição
O volume de distribuição oral (Vss/F) médio (CV%) da rosiglitazona é de aproximadamente 17,6 (30%) litros com base na análise farmacocinética da população. A rosiglitazona liga-se em aproximadamente 99,8% a proteínas21 plasmáticas, principalmente à albumina22.
Metabolismo6
A rosiglitazona é extensivamente metabolizada, e nenhuma droga inalterada é eliminada na urina23. As principais vias de metabolismo6 foram N-desmetilação e hidroxilação, seguidas por conjugação com sulfato e ácido glucurônico. Todos os metabólitos24 circulantes são consideravelmente menos potentes do que o composto original e, portanto, não se espera que contribuam para a atividade sensibilizante à insulina1 de rosiglitazona. Dados in vitro demonstram que a rosiglitazona é metabolizada principalmente pela isoenzima 2C8 do citocromo P450 (CYP), com CYP2C9 contribuindo como uma via de menor importância.
Um estudo conduzido em dez voluntários sadios normais mostrou que genfibrozila (um inibidor de CYP2C8), administrada na dose de 600 mg duas vezes ao dia, aumentou a exposição sistêmica à rosiglitazona em duas vezes mais no estado de equilíbrio. Outros inibidores de CYP2C8 demonstraram causar um aumento moderado na exposição sistêmica à rosiglitazona.
Um estudo conduzido em dez voluntários sadios normais mostrou que rifampicina (um indutor de CYP2C8), administrada na dose de 600 mg ao dia, diminuiu a exposição sistêmica à rosiglitazona em 65%.
Um estudo de interação de 22 pacientes adultos com psoríase25 examinou o efeito de doses repetidas de rosiglitazona (8 mg como dose única por 8 dias) sobre a farmacocinética de metotrexato oral, administrado em doses orais únicas de 5 a 25 mg por semana. Após 8 dias de administração de rosiglitazona, a Cmáx e a AUC20(0-inf) de metotrexato aumentaram em 18% (IC 90%: 11% a 26%) e 15% (IC 90%: 8% a 23%), respectivamente, quando comparadas às mesmas doses de metotrexato administradas na ausência de rosiglitazona.
Eliminação
Após administração oral ou intravenosa do maleato de rosiglitazona [C14], aproximadamente 64% e 23% da dose foram eliminados na urina23 e nas fezes, respectivamente. A meia-vida plasmática do material relacionado ao [C14] variou de 103 a 158 horas.
Farmacocinética da População em Pacientes com Diabetes Tipo 29
As análises farmacocinéticas da população de três grandes estudos clínicos, incluindo 642 homens e 405 mulheres com diabetes tipo 29 (idades de 35 a 80 anos), mostraram que a farmacocinética de rosiglitazona não é influenciada pela idade, raça, tabagismo ou consumo de álcool. Tanto o clearance oral (CL/F) quanto o volume de distribuição (Vss/F) no estado de equilíbrio demonstraram aumentar com aumentos de peso corporal. Ao longo da faixa de peso observada nestas análises (50 a 150 kg), a faixa de valores previstos de CL/F e Vss/F variou em < 1,7 vez e < 2,3 vezes, respectivamente. Além disso, o CL/F de rosiglitazona demonstrou ser influenciado pelo peso e sexo, sendo mais baixo (cerca de 15%) em pacientes do sexo feminino.
Populações Especiais de Pacientes
• Insuficiência Renal26
Não há diferenças clinicamente relevantes na farmacocinética da rosiglitazona em pacientes com insuficiência renal26 leve a grave ou em pacientes dependentes de hemodiálise27, em comparação com indivíduos com função renal15 normal. Portanto, nenhum ajuste da dose é necessário nesses pacientes recebendo Avandia®. Uma vez que a metformina17 é contra-indicada em pacientes com insuficiência renal26, a co-administração de metformina17 com Avandia® é contra-indicada nesses pacientes.
• Insuficiência Hepática28
O clearance oral livre de rosiglitazona foi significativamente mais baixo em pacientes com doença hepática29 moderada a grave (Classe B/C Child-Pugh), em comparação com indivíduos sadios. Em conseqüência, a Cmáx e a AUC20(0-inf) aumentaram 2 e 3 vezes, respectivamente. A meia-vida de eliminação para a rosiglitazona foi cerca de 2 horas mais longa em pacientes com doença hepática29, em comparação com indivíduos sadios.
O tratamento com Avandia® não deve ser iniciado se o paciente exibir evidências clínicas de doença hepática29 ativa ou níveis séricos aumentados de transaminase (ALT > 2,5x o limite superior da faixa normal) na avaliação basal.
• Idosos
Os resultados da análise farmacocinética da população (n = 716 < 65 anos; n = 331 ≥ 65 anos) mostraram que a idade não afeta de maneira significativa a farmacocinética da rosiglitazona.
• Sexo
Os resultados da análise farmacocinética da população mostraram que o clearance oral médio de rosiglitazona em pacientes do sexo feminino (n = 405) foi aproximadamente 6% mais baixo em comparação com pacientes do sexo masculino com o mesmo peso corporal (n = 642).
Como monoterapia e em combinação com metformina17, Avandia® melhorou o controle glicêmico em homens e mulheres. Em estudos da combinação com metformina17, a eficácia foi demonstrada, sem diferenças entre os sexos na resposta glicêmica.
Em estudos de monoterapia, uma resposta terapêutica30 maior foi observada em mulheres. No entanto, em pacientes mais obesos as diferenças entre os sexos foram menos evidentes. Para um determinado índice de massa corpórea (IMC31), as mulheres tendem a ter uma massa de gordura32 maior do que os homens. Como o PPARγ alvo molecular é expresso em tecidos adiposos, essa característica diferenciadora pode explicar, pelo menos em parte, a maior resposta a Avandia® em mulheres. Como o tratamento deve ser individualizado, nenhum ajuste da dose é necessário com base unicamente no sexo.
• Raça
Os resultados de uma análise farmacocinética da população, incluindo indivíduos caucasianos, negros e de outras origens étnicas, indicam que a etnia não tem influência sobre a farmacocinética da rosiglitazona.