INFORMAÇÕES TÉCNICAS AOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE MECLIN
Características farmacológicas
As múltiplas aplicações clínicas da meclizina estão ligadas ao seu amplo mecanismo de ação.
Por ser basicamente um anti-histamínico atua bloqueando os receptores H1 da histamina1, inibindo sua ação através do bloqueio dos receptores muscarínicos no cérebro2. Porém, ao contrário da maioria dos anti-histamínicos, apresenta baixa afinidade pelos receptores muscarínicos, o que em última análise, proporciona um menor número de reações adversas.
A meclizina possui propriedades anticolinérgicas, antieméticas, antiespasmódicas, depressora do sistema nervoso central3 e anestésica local.
O mecanismo dos efeitos antieméticos4 com a meclizina parece estar relacionado com a inibição do centro do vômito5 no tronco cerebral6. A meclizina também reduz a excitabilidade dos neurônios7 no núcleo vestibular8 e afeta as vias neuronais originadas do labirinto9.
Nos transtornos motores, impulsos dos receptores vestibulares10 são transmitidos para os núcleos vestibulares10, para áreas mais primitivas do cerebelo11 e para as áreas do tronco cerebral6. Os efeitos anticolinérgicos centrais da meclizina presumivelmente inibem o aumento da atividade dos neurônios7 colinérgicos nos núcleos vestibulares10 e áreas reticulares12, prevenindo a ativação do centro do vômito5.
A duração da ação da meclizina (acima de 24 horas) é maior do que a de outros antihistamínicos usados
em transtornos motores e vertigem13 (dimenidrinato, difenidramina, ciclizina, buclizina). A medicação é indicada para o tratamento de náusea14, vômito5 e tontura15 associados com transtornos motores.
As outras indicações incluem a prevenção e o tratamento do vômito5 que está associado com a vertigem13 de origem vestibular8, como a labirintite16 e a doença de Meniére.
Farmacocinética
Após administração oral, a meclizina é rapidamente absorvida, seu início de ação é em torno de 1 hora
no caso de transtornos motores e vertigem13.
Biodisponibilidade
A ação prolongada e os efeitos de uma dose única persistem por 24 horas após a administração. A meia vida da meclizina é de 6 horas.
Transporte e Metabolismo17
A via metabólica da meclizina não é totalmente conhecida em humanos. Estudos em animais indicam que a meclizina é metabolizada, provavelmente no fígado18, em norclorciclizina, um derivado da piperazina. Este metabólito19 é distribuído pela maioria dos tecidos e atravessa a barreira placentária.
Excreção:
Após administração oral, a meclizina é excretada pelas fezes de forma inalterada e pela urina20 como norclorciclizina.
Resultados de eficácia
Estudos clínicos sobre a eficácia do cloridrato de meclizina
Em 1975, Milkovich e van den Berg, em um estudo prospectivo21 amplo, avaliando a evolução de gestantes que utilizaram fármacos antinauseantes no primeiro trimestre da gestação, foram categóricos em sua conclusão: não houve indicação de que os derivados fenotiazínicos, especificamente os derivados da proclorperazina, assim como a meclizina, a ciclizina e o Bendectin, estivessem associados com teratogenicidade. (Milkovich L, van den Berg B An evaluation of the teratogenicity of certain antinauseant drugs Am J Obstet Gynecol 1976 125(2): 244-8)
Em 1994, Seto e cols. publicaram uma metanálise demonstrando claramente que o uso de antihistamínicos,
incluindo a meclizina, para o tratamento de NVG, mesmo no primeiro trimestre de gestação, era seguro e não teratogênico22. (Seto A, Einarson T, Koren G Pregnancy outcome following first trimester exposure to antihistamines: meta-analysis Am J Perinatol 1994 14: 119-24)
Em 2002, Magee e cols. descreveram, em um artigo de medicina baseada em evidências, que a meclizina e outros antihistamínicos eram eficazes e seguros para o tratamento da NVG. (Magee LA, Mazzotta P, Koren G Evidence-based view of safety and effectiveness of pharmacologic therapy for nausea14 and vomiting of pregnancy (NVP) Am J Obstet Gynecol 2002 186: S256-61)
Em importante artigo de revisão, Anne Leathem faz uma análise da eficácia e segurança das principais drogas utilizadas no tratamento de náusea14 e vômitos23 da gravidez24. Neste artigo aborda a retirada da Doxilamina do mercado nos Estados Unidos, pelas evidências de que aumentava o risco de alterações fetais. Faz também uma análise de falta de evidências da segurança do uso da Metoclopramida e do potencial teratogênico22, ainda que pequeno, do Dimenidrato. (Leathem AM Safety and efficacy of antiemetics used to treat nausea14 and vomiting in pregnancy Clinical Pharmacy 1986 5: 660-8)
Com o objetivo de avaliar os efeitos da meclizina no sistema vestibular25, Martin e Oosterveld realizaram
um estudo com 60 indivíduos, 30 normais e 30 portadores de labirintopatias. Os indivíduos normais receberam placebo26 e/ou medicação, enquanto os portadores de labirintopatia receberam a medicação. Foram avaliados os valores, antes e depois da medicação ou placebo26, para: nistagmo27 posicional, resposta a estimulação calórica bitermal e reação a aceleração angular. Os resultados mostraram uma significante redução do tempo do nistagmo27 no grupo dos labirintopatas e dos normais que receberam a droga, quando submetidos ao teste da aceleração angular. No teste da aceleração linear, também houve um decréscimo da amplitude do movimento ocular nos indivíduos que receberam a droga (labirintopatas ou não). Concluem os autores que, em vista a baixa incidência28 de efeitos colaterais29 e significante redução da excitabilidade vestibular8, a meclizina deve ser largamente utilizada no tratamento ambulatorial de pacientes portadores de labirintopatias. (Martin N, Oosterveld WJ, The vestibular8 effects of meclizine hydrochloride-niacin combination (antivert), Acta Otolaryng 70, 6-9, 1970)
Horak e colaboradores realizaram um estudo comparativo para analisar a redução de tontura15 e desequilíbrio em 25 pacientes portadores de afecção30 vestibular8 crônica, com no mínimo 6 meses de duração. Foram divididos em 3 grupos: o primeiro foi orientado para os exercícios de reabilitação vestibular8; o segundo para exercícios gerais e o terceiro foi medicado com meclizina.Os critérios avaliados foram o equilíbrio e a freqüência das crises de vertigem13.Os resultados foram surpreendentes, pois o grupo tratado com meclizina apresentou expressiva redução na vertigem13, mesmo em se tratando de casos crônicos (Horak FB, Jones-Rycewicz C, Black O, Shumway-Cook A, Effects of vestibular8 rehabilitation on dizziness and imabalnce, Otolaryngology-Head and Neck Surgery 106(2), 175-180, 1992)
Cohem e deJong realizaram um estudo duplo-cego31, cruzado, randomizado32, comparativo, entre meclizina
e placebo26 no tratamento da vertigem13 de origem vestibular8. Foram incluídos 31 pacientes, com os sinais33, sintomas34 e etiologia35. Na avaliação dos resultados, a meclizina foi muito superior ao placebo26, reduzindo a freqüência e severidade dos ataques, bem como os sinais33 e sintomas34 relacionados à vertigem13, tais como; náuseas36, nistagmo27 posicional e instabilidade postural. (Cohen B, deJong V, Meclizine and placebo26 in treating vertigo of vestibular8 origin, Arch Neurol 27, 129-135, 1972;)
Oenbrink, médico americano especialista em navegação, relata os bons resultados com a meclizina no tratamento das cinetoses37 provocadas em passageiros de cruzeiros marítimos. Nas companhias de navegação em que trabalha, como rotina é oferecido pelo serviço de quarto, comprimidos de 25 mg de meclizina aos passageiros que começam a sofrer com a cinetose38. Relata também os maus resultados e complicações acarretados pela escopolamina, outra droga disponível em alguns países para esta indicação, que obrigam a pronta intervenção no ambulatório médico de bordo. Reforça também a preocupação com a segurança da medicação, uma vez que é muito alta a incidência28 de passageiros idosos e portadores de múltiplas afecções39, em cruzeiros marítimos (Oenbrink RJ, Another approach to motion sickness, Readers'
Forum 90 (6), p. 44-5, 1991)