CARACTERÍSTICAS FARMACOLÓGICAS AIRES

Atualizado em 28/05/2016

Propriedades farmacodinâmicas

O princípio ativo do Aires é a acetilcisteína1, que exerce intensa ação mucolíticofluidificante das secreções mucosas2 e mucopurulentas, despolimerizando os complexos mucoproteicos e os ácidos nucleicos que dão viscosidade3 ao escarro e a outras secreções, além de melhorar a depuração mucociliar4. Estas atividades tornam Aires (acetilcisteína1) particularmente adequado para o tratamento das afecções5 agudas e crônicas do aparelho respiratório6 caracterizadas por secreções

mucosas2 e mucopurulentas densas e viscosas.

Além disso, a acetilcisteína1 exerce ação antioxidante direta, sendo dotada de um grupo tiol livre (-SH) nucleofílico em condições de interagir diretamente com os grupos eletrofílicos dos radicais oxidantes. De particular interesse é a recente demonstração de que a acetilcisteína1 protege a alfa-1-antitripsina, enzima7 inibidora da elastase, de ser inativada pelo ácido hipocloroso (HClO), potente

agente oxidante que é produzido pela enzima7 mieloperoxidase dos fagócitos8 ativados. A estrutura da sua molécula permite-lhe, além disso, atravessar facilmente as membranas celulares. No interior da célula9, a acetilcisteína1 é desacetilada, ficando assim disponível a L-cisteína, aminoácido indispensável para a síntese da glutationa (GSH). A GSH é um tripeptídio extremamente reativo que se encontra difundido por igual nos diversos tecidos dos organismos animais e é essencial para a manutenção da capacidade funcional e da integridade da morfologia celular, pois é o mecanismo mais importante de defesa intracelular contra os radicais oxidantes (tanto exógenos como endógenos) e contra numerosas substâncias citotóxicas.


A acetilcisteína1 exerce um papel de importância fundamental na manutenção de níveis apropriados de GSH, contribuindo para a proteção das células10 contra agentes nocivos que, através da espoliação progressiva da GSH, exerceriam integralmente sua ação citotóxica, como na intoxicação por paracetamol. Graças a esse mecanismo de ação, a acetilcisteína1 é indicada também como antídoto11 específico no envenenamento por paracetamol e na cistite12 hemorrágica13 durante o tratamento com ciclofosfamida, visto que fornece os grupos -SH necessários para bloquear a acroleína, metabólito14 da ciclofosfamida, ao qual se atribui essa uropatia. Pelas suas propriedades antioxidantes, e como precursora da glutationa intracelular, a acetilcisteína1 também exerce uma ação protetora das vias respiratórias, combatendo os danos provocados por agentes oxidantes.


Características farmacocinéticas

Estudos realizados em seres humanos, utilizando acetilcisteína1 marcada, demonstraram que o medicamento é bem absorvido por via oral. Os picos plasmáticos de radioatividade são atingidos após 2 a 3 horas. A dosagem no tecido15 pulmonar, 5 horas após a ingestão, demonstra a presença de concentrações significativas de acetilcisteína1.


Dados pré-clínicos de segurança

A acetilcisteína1 caracteriza-se por uma toxicidade16 particularmente baixa. Por via oral, a DL50 é superior a 10g/kg, tanto no camundongo como no rato, enquanto por via endovenosa é de 2,8g/kg no rato e 4,6g/kg no camundongo. Nos tratamentos prolongados, a dose de 1g/kg/dia por via oral foi bem tolerada no rato durante 12 semanas. No cão, a administração por via oral de 300 mg/kg/dia, durante um ano, não determinou reações tóxicas. O tratamento com doses elevadas em ratas e coelhas grávidas, durante o período da organogênese, não induziu o surgimento de malformações17 nos recém-nascidos.


Resultados de eficácia

Existem muitos estudos clínicos disponíveis sobre a eficácia clínica do produto.

Descrevemos a seguir alguns dos que entendemos serem os principais:


Eficácia da acetilcisteína1 na bronquite aguda18

Em um estudo clínico, a análise estatística comparativa entre o volume e a viscosidade3 das expectorações, além dos parâmetros de redução da tosse e volume expiratório mostrou a eficácia clínica da acetilcisteína1 em relação ao placebo19. Além destes, em outro estudo, foram analisados também a dificuldade de expectoração20, a força de expiração21 ventilatória e de capacidade respiratória máxima, que demonstraram a eficácia clínica da acetilcisteína1 em relação a placebo19 e Bromexina.


Eficácia da acetilcisteína1 nas exacerbações da bronquite crônica22

Foram feitas três meta-análises em estudos controlados e randomizados com relação às taxas de exacerbação em pacientes com bronquite crônica22 após utilização da acetilcisteína1 ou placebo19. Resultados: 23% e 29% de redução na taxa de exacerbações com a acetilcisteína1, comparada

com o placebo19. 48,5% dos pacientes que receberam acetilcisteína1 ficaram livres de exacerbações

em comparação com 31.2% dos pacientes que receberam placebo19.


Eficácia da acetilcisteína1 em vários sintomas23 clínicos da bronquite crônica22

Um estudo clínico demonstrou que a acetilcisteína1 melhora a viscosidade3 das expectorações em 80% dos casos; a natureza das expectorações em 59%; a dificuldade de expectorar foi reduzida em 74% e a intensidade da tosse diminuiu em 71%.


Eficácia da acetilcisteína1 em reduzir a colonização bacteriana brônquica

Figura: O efeito da acetilcisteína1 no número de bactérias intrabrônquicas em indivíduos sadios e em pacientes com DPOC.


Eficácia da acetilcisteína1 em reduzir o número de dias de doença aguda e os tratamentos com antibióticos.

A acetilcisteína1 reduz o número de exacerbações agudas, em pacientes com bronquite crônica22, causa uma redução no uso do tratamento antibiótico associado a exacerbações e também na duração (número de dias) da doença aguda, quando comparado ao tratamento antibiótico.


Eficácia da acetilcisteína1 na intoxicação por paracetamol.

A taxa de mortalidade24 foi de 5,3 a 24% entre pacientes com risco de hepatoxicidade que não receberam tratamento antídoto11, enquanto que foi de 2% para os que receberam tratamento com acetilcisteína1, por administração intravenosa.

Antes de consumir qualquer medicamento, consulte seu médico (http://www.catalogo.med.br).

Complementos

1 Acetilcisteína: Derivado N-acetil da cisteína. É usado como um agente mucolítico para reduzir a viscosidade das secreções mucosas.
2 Mucosas: Tipo de membranas, umidificadas por secreções glandulares, que recobrem cavidades orgânicas em contato direto ou indireto com o meio exterior.
3 Viscosidade: 1. Atributo ou condição do que é viscoso; viscidez. 2. Resistência que um fluido oferece ao escoamento e que se deve ao movimento relativo entre suas partes; atrito interno de um fluido.
4 Mucociliar: O aparelho mucociliar tem como principal função a remoção de partículas ou substâncias potencialmente agressivas ao trato respiratório através do transporte pelos cílios, ou alternativamente, pela tosse e espirro, nos quadros de hiperprodução de muco, como rinite alérgica, rinossinusites, bronquite crônica, fibrose cística e asma.
5 Afecções: Quaisquer alterações patológicas do corpo. Em psicologia, estado de morbidez, de anormalidade psíquica.
6 Aparelho respiratório: O aparelho respiratório transporta o ar do meio externo aos pulmões e vice-versa e promove a troca de gases entre o sangue e o ar.
7 Enzima: Proteína produzida pelo organismo que gera uma reação química. Por exemplo, as enzimas produzidas pelo intestino que ajudam no processo digestivo.
8 Fagócitos:
9 Célula: Unidade funcional básica de todo tecido, capaz de se duplicar (porém algumas células muito especializadas, como os neurônios, não conseguem se duplicar), trocar substâncias com o meio externo à célula, etc. Possui subestruturas (organelas) distintas como núcleo, parede celular, membrana celular, mitocôndrias, etc. que são as responsáveis pela sobrevivência da mesma.
10 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
11 Antídoto: Substância ou mistura que neutraliza os efeitos de um veneno. Esta ação pode reagir diretamente com o veneno ou amenizar/reverter a ação biológica causada por ele.
12 Cistite: Inflamação ou infecção da bexiga. É uma das infecções mais freqüentes em mulheres, e manifesta-se por ardor ao urinar, urina escura ou com traços de sangue, aumento na freqüência miccional, etc.
13 Hemorrágica: Relativo à hemorragia, ou seja, ao escoamento de sangue para fora dos vasos sanguíneos.
14 Metabólito: Qualquer composto intermediário das reações enzimáticas do metabolismo.
15 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
16 Toxicidade: Capacidade de uma substância produzir efeitos prejudiciais ao organismo vivo.
17 Malformações: 1. Defeito na forma ou na formação; anomalia, aberração, deformação. 2. Em patologia, é vício de conformação de uma parte do corpo, de origem congênita ou hereditária, geralmente curável por cirurgia. Ela é diferente da deformação (que é adquirida) e da monstruosidade (que é incurável).
18 Bronquite aguda: Inflamação dos brônquios produzida em geral por diferentes vírus respiratórios, que se manifesta por febre, tosse e expectoração de muco à tosse.
19 Placebo: Preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição a um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações, geralmente de natureza psicológica, que acompanham tal procedimento terapêutico.
20 Expectoração: Ato ou efeito de expectorar. Em patologia, é a expulsão, por meio da tosse, de secreções provenientes da traqueia, brônquios e pulmões; escarro.
21 Expiração: 1. Ato ou efeito de expirar. 2. Expulsão, pelas vias respiratórias, do ar dos pulmões. 3. Fim ou termo de prazo estipulado ou convencionado.
22 Bronquite crônica: Inflamação persistente da mucosa dos brônquios, em geral produzida por tabagismo, e caracterizada por um grande aumento na produção de muco bronquial que produz tosse e expectoração durante pelo menos três meses consecutivos durante dois anos.
23 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
24 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.

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