CARACTERÍSTICAS FARMACOLÓGICAS AIRES
Propriedades farmacodinâmicas
O princípio ativo do Aires é a acetilcisteína1, que exerce intensa ação mucolíticofluidificante das secreções mucosas2 e mucopurulentas, despolimerizando os complexos mucoproteicos e os ácidos nucleicos que dão viscosidade3 ao escarro e a outras secreções, além de melhorar a depuração mucociliar4. Estas atividades tornam Aires (acetilcisteína1) particularmente adequado para o tratamento das afecções5 agudas e crônicas do aparelho respiratório6 caracterizadas por secreções
mucosas2 e mucopurulentas densas e viscosas.
Além disso, a acetilcisteína1 exerce ação antioxidante direta, sendo dotada de um grupo tiol livre (-SH) nucleofílico em condições de interagir diretamente com os grupos eletrofílicos dos radicais oxidantes. De particular interesse é a recente demonstração de que a acetilcisteína1 protege a alfa-1-antitripsina, enzima7 inibidora da elastase, de ser inativada pelo ácido hipocloroso (HClO), potente
agente oxidante que é produzido pela enzima7 mieloperoxidase dos fagócitos8 ativados. A estrutura da sua molécula permite-lhe, além disso, atravessar facilmente as membranas celulares. No interior da célula9, a acetilcisteína1 é desacetilada, ficando assim disponível a L-cisteína, aminoácido indispensável para a síntese da glutationa (GSH). A GSH é um tripeptídio extremamente reativo que se encontra difundido por igual nos diversos tecidos dos organismos animais e é essencial para a manutenção da capacidade funcional e da integridade da morfologia celular, pois é o mecanismo mais importante de defesa intracelular contra os radicais oxidantes (tanto exógenos como endógenos) e contra numerosas substâncias citotóxicas.
A acetilcisteína1 exerce um papel de importância fundamental na manutenção de níveis apropriados de GSH, contribuindo para a proteção das células10 contra agentes nocivos que, através da espoliação progressiva da GSH, exerceriam integralmente sua ação citotóxica, como na intoxicação por paracetamol. Graças a esse mecanismo de ação, a acetilcisteína1 é indicada também como antídoto11 específico no envenenamento por paracetamol e na cistite12 hemorrágica13 durante o tratamento com ciclofosfamida, visto que fornece os grupos -SH necessários para bloquear a acroleína, metabólito14 da ciclofosfamida, ao qual se atribui essa uropatia. Pelas suas propriedades antioxidantes, e como precursora da glutationa intracelular, a acetilcisteína1 também exerce uma ação protetora das vias respiratórias, combatendo os danos provocados por agentes oxidantes.
Características farmacocinéticas
Estudos realizados em seres humanos, utilizando acetilcisteína1 marcada, demonstraram que o medicamento é bem absorvido por via oral. Os picos plasmáticos de radioatividade são atingidos após 2 a 3 horas. A dosagem no tecido15 pulmonar, 5 horas após a ingestão, demonstra a presença de concentrações significativas de acetilcisteína1.
Dados pré-clínicos de segurança
A acetilcisteína1 caracteriza-se por uma toxicidade16 particularmente baixa. Por via oral, a DL50 é superior a 10g/kg, tanto no camundongo como no rato, enquanto por via endovenosa é de 2,8g/kg no rato e 4,6g/kg no camundongo. Nos tratamentos prolongados, a dose de 1g/kg/dia por via oral foi bem tolerada no rato durante 12 semanas. No cão, a administração por via oral de 300 mg/kg/dia, durante um ano, não determinou reações tóxicas. O tratamento com doses elevadas em ratas e coelhas grávidas, durante o período da organogênese, não induziu o surgimento de malformações17 nos recém-nascidos.
Resultados de eficácia
Existem muitos estudos clínicos disponíveis sobre a eficácia clínica do produto.
Descrevemos a seguir alguns dos que entendemos serem os principais:
Eficácia da acetilcisteína1 na bronquite aguda18
Em um estudo clínico, a análise estatística comparativa entre o volume e a viscosidade3 das expectorações, além dos parâmetros de redução da tosse e volume expiratório mostrou a eficácia clínica da acetilcisteína1 em relação ao placebo19. Além destes, em outro estudo, foram analisados também a dificuldade de expectoração20, a força de expiração21 ventilatória e de capacidade respiratória máxima, que demonstraram a eficácia clínica da acetilcisteína1 em relação a placebo19 e Bromexina.
Eficácia da acetilcisteína1 nas exacerbações da bronquite crônica22
Foram feitas três meta-análises em estudos controlados e randomizados com relação às taxas de exacerbação em pacientes com bronquite crônica22 após utilização da acetilcisteína1 ou placebo19. Resultados: 23% e 29% de redução na taxa de exacerbações com a acetilcisteína1, comparada
com o placebo19. 48,5% dos pacientes que receberam acetilcisteína1 ficaram livres de exacerbações
em comparação com 31.2% dos pacientes que receberam placebo19.
Eficácia da acetilcisteína1 em vários sintomas23 clínicos da bronquite crônica22
Um estudo clínico demonstrou que a acetilcisteína1 melhora a viscosidade3 das expectorações em 80% dos casos; a natureza das expectorações em 59%; a dificuldade de expectorar foi reduzida em 74% e a intensidade da tosse diminuiu em 71%.
Eficácia da acetilcisteína1 em reduzir a colonização bacteriana brônquica
Figura: O efeito da acetilcisteína1 no número de bactérias intrabrônquicas em indivíduos sadios e em pacientes com DPOC.
Eficácia da acetilcisteína1 em reduzir o número de dias de doença aguda e os tratamentos com antibióticos.
A acetilcisteína1 reduz o número de exacerbações agudas, em pacientes com bronquite crônica22, causa uma redução no uso do tratamento antibiótico associado a exacerbações e também na duração (número de dias) da doença aguda, quando comparado ao tratamento antibiótico.
Eficácia da acetilcisteína1 na intoxicação por paracetamol.
A taxa de mortalidade24 foi de 5,3 a 24% entre pacientes com risco de hepatoxicidade que não receberam tratamento antídoto11, enquanto que foi de 2% para os que receberam tratamento com acetilcisteína1, por administração intravenosa.