INFORMAÇÕES TÉCNICAS MAREVAN
Características farmacológicas
A varfarina sódica, substância ativa de Marevan®, é um anticoagulante1 sintético pertencente à classe dos antagonistas da vitamina2 K. A varfarina é uma mistura racêmica3 de quantidades aproximadamente iguais de 2 isômeros opticamente ativos, as formas R e S.
Farmacodinâmica
Marevan® atua por inibição da formação dos fatores de coagulação4 II, VII, IX e X.
Um efeito no tempo de protrombina5 é produzido em 24 a 36 horas após a dose inicial e atinge o máximo em 36 a 48 horas, mantendo-se por 48 horas ou mais, após a interrupção da administração.
Dentre os compostos 4-hidroxicumarínicos, a varfarina é o anticoagulante1 oral mais amplamente usado, devido ao seu início de ação previsível, duração da ação e excelente biodisponibilidade.
Farmacocinética
A varfarina é rápida e amplamente absorvida através do trato gastrointestinal. Sua absorção é praticamente completa após a administração por via oral.
A varfarina circula ligada a proteínas6 plasmáticas; distribui-se amplamente em todos os tecidos e se acumula rapidamente no fígado7, primariamente nos microssomos. A exemplo dos demais anticoagulantes8 cumarínicos, atravessa a barreira placentária e é excretada no leite materno.
Aproximadamente 97% da substância apresentam-se ligados à albumina9 plasmática.
Os dois isômeros são metabolicamente transformados por vias diferentes. A Rvarfarina é primariamente metabolizada por redução da cadeia lateral acetonil em varfarina álcoois, que são excretados na urina10, e a S-varfarina é metabolizada por oxidação a 7-hidroxi-S-varfarina, que é eliminada na bile11. O fármaco12 é lentamente degradado e apresenta um ligeiro efeito cumulativo, capaz de manter a atividade de protrombina5 nos níveis desejados, apesar de eventuais variações nas dosagens diárias.
A varfarina racêmica3 tem uma meia-vida plasmática de 36 a 42 horas.
A sua ação se inicia dentro de 24 horas, por causa da inibição da produção do fator VII, que tem uma meia-vida de seis a sete horas, mas o pico da atividade se dá entre 72 a 96 horas devido às meias-vidas maiores dos fatores II, IX e X.
Após administração por via oral, em indivíduos normais, concentrações plasmáticas máximas são atingidas em cerca de 90 minutos.
O índice normalizado internacional (INR) deve ser usado como parâmetro para o tratamento com anticoagulantes8 orais e prevenção de hemorragias13.
A intensidade ótima do tratamento anticoagulante1 varia com as indicações. Para a maioria das indicações, é apropriado um efeito anticoagulante1 moderado com um INR - alvo de 2.0 a 3.0 (esquema de intensidade moderada). Para este INR e uma tromboplastina14 com um índice internacional de sensibilidade (ISI) de 2,3, a correspondente relação protrombina5-tempo é de aproximadamente 1,35 a 1,61.
A concentração terapêutica15 de varfarina, portanto é aquela capaz de manter, após o alcance do estado de equilíbrio, uma relação protrombina5/tempo apropriada para a indicação.
Após ser metabolizada no fígado7 em compostos inativos, a varfarina é eliminada sob a forma de varfarina álcoois na urina10 e de 7-hidroxi-S varfarina, na bile11. A meia-vida de eliminação (T1/2) da varfarina varia de 25 a 60 horas (média de 40 horas). A sua duração de ação, em condições normais, varia de dois a cinco dias.
Resultados de eficácia
Estudo1 randomizado16, duplo cego, com 738 pacientes, mostrou que a terapia com a dose convencional de varfarina é mais efetiva e não está associada a maior risco de sangramento importante, quando comparada a terapia de baixa intensidade com varfarina, para a prevenção de tromboembólise recorrente por tempo prolongado (média de duração: 2,4 anos).
Prins HM et al 2 mostraram que em pacientes com trombose venosa profunda17, o uso de varfarina é superior ao placebo18 ou a doses profiláticas de heparina subcutânea19, na prevenção de recorrência20.
Outros estudos3 verificaram que, após cirurgias ortopédicas ou ginecológicas de grande porte, o uso de varfarina é efetivo na prevenção da trombose21 venosa.
Dados de uma análise conjunta de cinco estudos4 controlados e randomizados publicados em 1994, avaliaram a eficácia e os riscos da terapia anti-trombótica22 em pacientes com fibrilação atrial. No grupo varfarina-controle, 1889 pacientes receberam varfarina e 1802, placebo18. A média de idade dos estudos foi de 69 anos, 46% dos pacientes possuíam história de hipertensão23, 6% já tinham apresentado ataque isquêmico24 transitório ou AVC (acidente vascular25 cerebralderrame) e 14% eram diabéticos. A eficácia da varfarina foi consistente em todos os estudos e subgrupos de pacientes. Em mulheres, a varfarina reduziu o risco de AVC em 84%, comparado a 60% nos homens. A taxa anual de hemorragia26 grave (hemorragia26 intracraniana, necessidade de hospitalização ou transfusão27 de duas unidades de sangue28) foi de 1% para o grupo controle e 1,3% para o grupo varfarina. Nesses estudos a varfarina reduziu o risco de AVC em pacientes com fibrilação atrial em 68%, com praticamente nenhum aumento na freqüência de hemorragia26 grave.
Outro estudo5 multicêntrico, randomizado16, comparou a ação da varfarina ou aspirina com placebo18 na prevenção do AVC e do embolismo29 sistêmico30 (eventos primários), tendo incluído 1330 pacientes internados ou ambulatoriais com fibrilação atrial de origem não reumática, constante ou intermitente31. No grupo varfarina versus placebo18, a taxa de AVC isquêmico24 e embolia32 sistêmica foi reduzida substancialmente pelo uso de varfarina (2,3% /ano comparado com 7,4% /ano no grupo placebo18). O risco de evento primário ou morte foi reduzido em 58% naqueles do grupo varfarina. O risco de hemorragia26 significativa foi de 1,5%, 1,4% e 1,6% / ano, para os pacientes dos grupos varfarina, aspirina e placebo18, respectivamente.
O Trombosis Prevention Trial6 avaliou o uso de varfarina (alvo de INR 1,3 a 1,8), aspirina (75mg/dia) ou ambos, para prevenção do primeiro IAM. Os resultados sugeriram que o uso da varfarina com baixa intensidade de anticoagulação foi efetivo na prevenção de isquemia33 aguda (particularmente eventos fatais), e a combinação com aspirina foi mais efetiva que o uso isolado, com pequeno aumento no risco de hemorragias13.
O estudo WARIS II7 comparou a varfarina, a aspirina ou ambos em 3630 pacientes com IAM, randomizados no período de alta hospitalar e acompanhados por dois anos. Os desfechos foram: mortalidade34 total, re-infarto35 não fatal ou acidente vascular25 tromboembólico. Esses eventos ocorreram em 20% dos pacientes do grupo aspirina (160 mg/d), 16,7% do grupo varfarina (INR médio 2,8) e 15% dos pacientes que utilizaram ambas as drogas (INR médio 2.2; aspirina 75 mg/d). A superioridade da associação versus aspirina foi altamente significativa (p 0.0005).
Não houve diferença significativa entre os dois grupos com varfarina.
Sangramento importante ocorreu numa taxa de 0.15% por ano no grupo aspirina, 0.58% / ano no grupo varfarina e 0.52% / ano no grupo com associação.
Em um estudo8 prospectivo36, randomizado16, aberto, controlado com 254 pacientes, o intervalo livre de eventos tromboembólicos foi significativamente maior nos pacientes com prótese37 valvar cardíaca mecânica tratados apenas com varfarina, comparado com dipiridamol-aspirina (p<0.005) e pentoxifilina-aspirina (p<0.05). As taxas de eventos tromboembólicos nesses grupos foram de 2.2, 8.6 e 7.9 / 100 pacientes por ano, respectivamente.
1- Kearon C, Ginsberg JS, Kovacs MJ, et al. Comparison of low-intensity warfarin therapy with conventional-intensity warfarin therapy for long-term prevention of recurrent venous thromboembolism. N Engl J Med;349:631-9, 2003.
2- Prins HM et al. long term treatment of venous thromboembolic disease.Thromb Haemost;82:892-898,1999.
3- J, Fuster V, Ansell J, et al. American Heart Association/American College of Cardiology Foundation guide to warfarin therapy. Circulation ;107:1692—1711, 2003.
4- Analysis of pooled data from five randomized controlled trials: risk factors for stroke and efficacy of antitrombotic therapy in atrial fibrillation. Arch Intern Med;154:1449-1457, 1994.
5- Stroke prevention in atrial fibrillation study: final results. Circulation; 84:527-539,1991.
6- The Medical Research Council’s General Practice Research Framework. Thrombosis Prevention trial: randomised trial of low-intensity oral anticoagulation with warfarin and low-dose aspirin in the primary prevention is ischaemic heart disease in men at increased risk. Lancet; 351:233–241,1998.
7- Hurlen M et al. Effects of warfarin, aspirin and the two combined, on mortality and thromboembolic morbidity after myocardial infarction. The WARIS-II (Warfarin-Aspirin Reinfarction Study) design. Scand Cardiovasc J; 34(2): 168-71, 2000.
8- Mok CK, Boey J, Wang R, et al. Warfarin versus dipyridamole-aspirin and pentoxifylline-aspirin for the prevention of prosthetic heart valve thromboembolism: a prospective clinical trial. Circulation;72:1059–1063,1985.