
CARACTERÍSTICAS DÁIVA
Dáiva (algestona acetofenida + enantato de estradiol) é um anticoncepcional injetável que se aplica por via intramuscular, somente uma vez por mês. Trata-se da associação de dois princípios ativos: um gestágeno (acetofenido de diidroxiprogesterona, DHPA) e um estrógeno1 (enantato de estradiol, E2EN).Dáiva (algestona acetofenida + enantato de estradiol) provém de um estrógeno1 natural (estradioI), ao contrário dos estrógenos sintéticos utilizados em contraceptivos orais combinados (COCs). Por ser fisiológico2, tem curto tempo de ação e é menos potente que os estrógenos sintéticos (COCs); o tipo e a magnitude de efeitos adversos relacionados com algestona acetofenida + enantato de estradiol podem ser diferentes daqueles em usuárias de COCs.
Estudos comparativos mostraram que DHPA+E2EN têm pouco ou nenhum efeito sobre pressão arterial3, hemostase e coagulação4, metabolismo5 de lipídios e carboidratos, e função hepática6, ao contrário dos COCS. Além disso, a administração parenteral de algestona acetofenida + enantato de estradiol elimina o efeito da primeira passagem dos hormônios pelo fígado7.
A dose do gestágeno (DHPA 150 mg) confere ao Dáiva (algestona acetofenida + enantato de estradiol) o seu principal mecanismo de ação anticoncepcional: o efeito anovulatório por supressão da secreção de gonadotrofinas hipofisárias. Os efeitos gestágenos acessórios (modificação do muco cervical, alterações endometriais e da motilidade tubária desfavoráveis à passagem e à capacidade do espermatozóide8 em promover a fecundação9 e a nidação10) reasseguram a sua eficácia anticoncepcional.
A dose do estrógeno1 (E2EN 10 mg) assegura padrões de sangramento e desenvolvimento endometrial cíclico e previsível, de características em geral semelhantes às de uma menstruação11 normal. A presença de um estrógeno1 no produto corresponde às tendências mais modernas em anticoncepção injetável, tendo aceitação signifi cativamente maior que os preparados que contêm exclusivamente gestágenos.
A proporção posológica entre DHPA e E2EN (150 mg:10 mg) foi selecionada em estudos comparativos por seu adequado balanço entre efi cácia e tolerabilidade. Ao comparar esta posologia com a dos anticoncepcionais orais, deve-se ter em mente que os componentes de algestona acetofenida + enantato de estradiol não são derivados sintéticos tão potentes como os utilizados por via oral em microgramas, mas sim derivados diretos dos hormônios naturais do organismo que, para produzir efeitos similares, são aplicados por via parenteral, em miligramas.
Para se avaliar a eficácia de um anticoncepcional, adota-se um índice denominado Índice de Pearl12. Pela observação de estudos realizados em diversos países e com base no uso do produto por vários anos, o valor desse índice para o algestona acetofenida + enantato de estradiol pode variar de 0,03 como resultado de falhas do método (Índice de Pearl12 teórico) até 0,15/0,17 como resultado de falhas do método e/ou da usuária (Índice de Pearl12 real). Isto significa que, apesar da alta eficácia do produto, que é igual ou superior a dos anticoncepcionais orais, podem ocorrer gestações na proporção de 3 a 17 casos para cada grupo de 10.000 mulheres que utilizarem o produto durante 1 ano.
A tolerabilidade local de algestona acetofenida + enantato de estradiol é satisfatória e a sistêmica corresponde a dos anticoncepcionais orais combinados atualmente em uso.
Algestona acetofenida + enantato de estradiol é uma solução oleosa administrada por via intramuscular. É distribuída no tecido adiposo13, onde ocorre lenta liberação, assegurando seu efeito por todo o mês. O local da aplicação não deve ser massageado, pois pode-se acelerar sua absorção, com conseqüente diminuição da eficácia. O pico sérico de estradiol ocorre depois de 3 dias da aplicação e tem uma meia-vida de 5,57 dias. Os metabólitos14, ácido glucurônico e conjugados metabólicos de ácido sulfúrico, são eliminados primariamente na urina15. A meia-vida da diidroxiprogesterona e dos seus metabólitos14 é de 24 dias.
Após a administração, o efeito hormonal persiste durante todo o ciclo menstrual. A excreção se dá basicamente pelas fezes.
Não consta que a aplicação repetida de algestona acetofenida + enantato de estradiol se correlacione com alterações nas características farmacocinéticas do produto, nem com sinais16 de acúmulo no organismo.
Estudos de toxicidade17 de dose única, realizados em diferentes espécies de animais, falharam ao demonstrar a DL50 por via intramuscular, devido a ausência de óbitos, mesmo usando-se a dose máxima provável em cada espécie.
Soluções oleosas de DHPA e E2EN foram aplicadas via i.m. na proporção de 15:1.
Os valores de DL50 obtidos foram:
- > 150 mg+10 mg / 1 ml/kg em ratos,
- > 375 mg+25 mg / 2,5 ml/kg em camundongos,
- > 750 mg+50 mg / 5 ml/kg em coelhos.
O único sinal18 tóxico foi uma discreta sedação19 ocorrida logo após a administração e que desapareceu em 1-2 dias.
Nenhuma intolerância local foi descrita. Depois de 14 dias podem-se observar hipotrofia20 ovariana e testicular, bem como dilatação e congestão uterina. Estes são considerados efeitos farmacológicos e não toxicológicos do produto.
Estudos de toxicidade17 repetidos mostraram que o ciclo menstrual é abolido nas fêmeas e a espermatogênese nos machos. Em ratas, doses maiores que DHPA 30 mg + E2EN 2 mg por kg de peso corpóreo, i.m., correlacionam-se com atrofia21 ovariana e dilatação severa e, às vezes, com infecção22 uterina. Nos machos, há hipotrofia20 dos testículos23 e das glândulas24 sexuais acessórias, e em ambos os sexos hiperplasia25 da glândula26 pituitária e diminuição do peso corpóreo. Em cães, essa preparação causou hiperplasia25 pituitária e tumores de mama27. Todos esses efeitos são previsíveis com todos os tipos de agentes progestogênicos, mesmo a progesterona, quando aplicados nesses animais em altas doses e por um longo período. É por isso que estudiosos da OMS têm desqualificado o modelo de cães como padrão quando avaliam a toxicidade17 de contraceptivos hormonais usados em mulheres. Por outro lado, estudos epidemiológicos mostraram que mulheres tratadas com a combinação de DHPA+ E2EN falharam em demonstrar alguma correlação entre essa formulação e carcinoma28 cervical.