PROPRIEDADES SANDOSTATIN
A octreotida é um derivado octapeptídio sintético da somatostatina de ocorrência natural com efeitos farmacológicos similares, mas com duração de ação consideravelmente prolongada. Inibe a secreção patologicamente aumentada do hormônio1 de crescimento (GH) e dos peptídios e serotonina produzidos dentro do sistema endócrino2 gastro-entero-pancreático (GEP).
Em animais, a octreotida é um inibidor mais potente que a somatostatina na liberação do hormônio1 de crescimento, glucagon3 e insulina4, com maior seletividade para a supressão de GH e glucagon3. A administração prolongada (26 semanas) de doses de até 1 mg/kg ao dia (via intraperitoneal) no rato e de até 0,5 mg/kg ao dia (via intravenosa) no cão é bem tolerada.
Em indivíduos sadios Sandostatin inibe:
a liberação do hormônio1 de crescimento (GH) estimulada pela arginina, exercício e hipoglicemia5 induzida pela insulina4.
a liberação pós-prandial de insulina4, glucagon3, gastrina6, outros peptídios do sistema GEP e a liberação de insulina4 e glucagon3 estimulada pela arginina.
a liberação do hormônio1 de estimulação da tiróide (TSH) estimulada pelo hormônio1 de liberação da tirotrofina (TRH)
Em pacientes acromegálicos (incluindo os que não responderam à cirurgia, irradiação ou tratamento com agonistas da dopamina7) Sandostatin reduz os níveis plasmáticos do hormônio1 de crescimento e/ou somatomedina C. Ocorre redução clinicamente relevante do GH (cerca de 50% ou mais) em quase todos os pacientes e pode ser alcançada normalização (GH plasmático < 5 mg/ml) em cerca de metade dos casos. Na maioria dos pacientes, Sandostatin reduz acentuadamente os sintomas8 clínicos da doença, tais como cefaléia9, edema10 da pele11 e tecidos moles, hiper-hidrose, artralgia12, parestesia13. Em pacientes com um grande adenoma14 pituitário, o tratamento com Sandostatin pode resultar em alguma diminuição da massa tumoral.
Em pacientes com tumores do sistema endócrino2 gastro-entero-pancreático Sandostatin, devido aos seus diferentes efeitos endócrinos, modifica diversas características clínicas. Ocorre melhora clínica e benefício sintomático15 em pacientes que ainda apresentam sintomas8 relacionados aos seus tumores, apesar das terapias anteriores, que podem incluir cirurgia, embolização16 da artéria hepática17 e várias quimioterapias, por exemplo, estreptozotocina e 5-fluorouracil.
Os efeitos de Sandostatin nos diferentes tipos de tumores são os seguintes:
Tumores carcinóides: A administração de Sandostatin pode resultar em melhora dos sintomas8, particularmente rubor e diarréia18. Em muitos casos isto se acompanha de uma queda na serotonina plasmática e excreção urinária reduzida do ácido 5-hidroxiindol acético. Se não houver resposta benéfica ao tratamento com Sandostatin, a terapia não deve se estender além de uma semana.
VIPomas: A característica bioquímica destes tumores é a superprodução de peptídio intestinal vasoativo (VIP). Na maioria dos casos, a administração de Sandostatin resulta em alívio da diarréia18 secretória grave típica da afecção19, com conseqüente melhora na qualidade de vida. Isto se acompanha de uma melhora nas anormalidades eletrolíticas associadas, p. ex., hipocalemia20, permitindo que os líquidos parentenal e enteral e a suplementação21 eletrolítica sejam retirados. Em alguns pacientes, a cintilografia22 por tomografia computadorizada23 sugere um retardamento ou contenção da progressão do tumor24, ou mesmo sua diminuição, particularmente nas metástases25 hepáticas26. A melhora clínica é em geral acompanhada por redução nos níveis plasmáticos de VIP, que podem reduzir-se a níveis dentro da faixa normal de referência.
Glucagonomas: A administração de Sandostatin resulta, na maioria dos casos, em melhora substancial do exantema27 migratório necrolítico, característico da afecção19. O efeito de Sandostatin sobre o estado de diabetes mellitus28 leve que freqüentemente ocorre não é acentuado e, em geral, não resulta em redução das necessidades de insulina4 ou agentes hipoglicemiantes orais29. Sandostatin produz melhora da diarréia18 e, portanto, ganho de peso naqueles pacientes afetados. Embora a administração de Sandostatin, com freqüência, leve a uma redução imediata nos níveis plasmáticos de glucagon3, este decréscimo geralmente não é mantido durante período prolongado de administração, apesar da melhora sintomática30 continuada.
Gastrinomas/síndrome de Zollinger-Ellison31: Embora a terapia com agentes bloqueadores do receptor-H2 seletivo e antiácidos32 controle a ulceração33 péptica recorrente que resulta da hipersecreção de ácido gástrico34 estimulada pela gastrina6, tal controle pode ser incompleto. A diarréia18 pode também constituir sintoma35 proeminente não aliviado por esta terapia. Sandostatin isolado ou em associação a antagonistas do receptor-H2 pode reduzir a hipersecreção de ácido gástrico34 e melhorar os sintomas8, incluindo diarréia18. Outros sintomas8 possivelmente devidos à produção de peptídio pelo tumor24, p. ex., rubor, podem também ser aliviados. Os níveis plasmáticos de gastrina6 caem em alguns pacientes.
Insulinomas: A administração de Sandostatin produz uma queda na insulina4 imunorreativa circulante, que pode, entretanto, ser de curta duração (cerca de duas horas). Em pacientes com tumores operáveis, Sandostatin pode ajudar a restaurar e manter a normoglicemia no pré-operatório. Em pacientes com tumores malígnos ou benígnos inoperáveis, o controle glicêmico pode ser melhorado sem redução mantida concomitante nos níveis circulantes de insulina4.
GRFomas: Estes raros tumores são caracterizados pela produção de fator de liberação do hormônio1 de crescimento (GRF) isoladamente ou juntamente com outros peptídios ativos. Sandostatin produz melhora nas características e sintomas8 da acromegalia36 resultante. Isto provavelmente se deve à inibição do GRF e secreção do hormônio1 de crescimento e pode ser seguido por uma redução no aumento pituitário.
Em pacientes com diarréia18 refratária relacionada à síndrome37 de imunodeficiência38 adquirida (AIDS), Sandostatin produz controle parcial ou completo do débito de fezes em cerca de um terço dos pacientes com diarréia18 que não respondem aos agentes antidiarréicos e/ou anti-infecciosos convencionais.
Para os pacientes submetidos a uma cirurgia pancreática, a administração peri e pós-operatória de Sandostatin reduz a incidência39 das complicações típicas pós-operatórias (por exemplo, fístula40 pancreática, abcesso e sepsis subsequente, pancreatite41 aguda pós-operatória).