CARACTERÍSTICAS FARMACOLÓGICAS XYLOCAINA POMADA 5%
Propriedades Farmacodinâmicas
A lidocaína é absorvida após a aplicação da XYLOCAÍNA Pomada nas mucosas1 e pele2 danificadas. É inativa quando aplicada à pele2 íntegra. A absorção ocorre mais rapidamente após administração intratraqueal. O início de ação é 0,5 – 5 minutos em mucosas1.
A lidocaína, como outros anestésicos locais, causa um bloqueio reversível da propagação do impulso ao longo das fibras nervosas através da prevenção do movimento de íons3 sódio para dentro das membranas nervosas. Presume-se que anestésicos locais do tipo amida atuem dentro dos canais de sódio das membranas nervosas.
Anestésicos locais podem também ter efeitos similares nas membranas excitáveis do cérebro4 e do miocárdio5. Se quantidades excessivas do fármaco6 atingirem a circulação7 sistêmica rapidamente, sinais8 e sintomas9 de toxicidade10 poderão aparecer, provenientes dos sistemas cardiovascular e nervoso central.
A toxicidade10 no Sistema Nervoso Central11 geralmente precede os efeitos cardiovasculares, uma vez que ela ocorre em níveis plasmáticos mais baixos. Efeitos diretos dos anestésicos locais no coração12 incluem condução lenta, inotropismo negativo e, eventualmente, parada cardíaca.
A lidocaína na forma de pomada diminui significativamente a dor de injeções dentais quando comparado ao placebo13. A lidocaína pomada aplicada ao tubo endotraqueal antes da intubação diminui a ocorrência de dor de garganta14 pós-operatória. Estudos controlados demonstram sua eficácia como um analgésico15 pós-operatório em odontologia, em otorrinolaringologia e depois de circuncisão.
Além do seu efeito de anestesia16 local, a lidocaína tem propriedades antibacteriana e antivirótica em concentrações acima de 0,5–2%, dependendo das espécies. A lidocaína em concentrações de 1–4% induz uma inibição concentração-dependente de crescimento geralmente em uma variedade de patógenos encontrada em infecções17 de ferida, como Enterococcus faecalis, Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus. A maior sensibilidade é mostrada através de organismos gram-negativos. A lidocaína em concentrações de 2 – 4% inibe o crescimento de um número de S. aureus meticilina-resistente e Enterococci vancomicina-resistente de cepas18 isoladas.
Propriedades Farmacocinéticas
A lidocaína é absorvida após aplicação tópica em mucosas1. A velocidade e a extensão da absorção dependem da dose total administrada e da concentração, do local de aplicação e da duração da exposição. Geralmente, a velocidade de absorção de agentes anestésicos locais após aplicação tópica, é mais rápida após administração intratraqueal e bronquial. A lidocaína também é bem absorvida no trato gastrointestinal, mas pouco fármaco6 intacto aparece na circulação7 por causa da biotransformação no fígado19.
Após a inserção de um tubo endotraqueal lubrificado com em média de 1,26 g (0,49–2,45) de XYLOCAÍNA Pomada em pacientes entre 18 e 80 anos, o pico de concentração plasmática de lidocaína foi 0,45 (0,2–0,9) mcg/ml e normalmente foi observado dentro de 15 minutos. Um aumento de dose de 1 g de pomada resultou em um aumento em média da concentração plasmática de 0,22 mcg/ml.
A ligação da lidocaína às proteínas20 plasmáticas é dependente da concentração, e a fração de ligação diminui com o aumento da concentração. Nas concentrações de 1 a 4 mcg de base livre por ml, 60 a 80% da lidocaína é de ligação protéica. A ligação é também dependente da concentração plasmática de alfa-1-glicoproteína ácida.
A lidocaína atravessa as barreiras hematoencefálica e placentária, presumivelmente por difusão passiva.
A lidocaína é rapidamente metabolizada no fígado19 e os metabólitos21 e a droga inalterada são excretados pelos rins22. A biotransformação inclui N-desalquilação oxidativa, hidroxilação cíclica, clivagem da ligação amídica e conjugação. N-desalquilação, uma via principal de biotransformação, produz os metabólitos21 monoetilglicinexilidida e glicinexilidida. As ações farmacológicas/toxicológicas destes metabólitos21 são semelhantes, mas menos potentes do que aqueles da lidocaína. Aproximadamente 90% da lidocaína administrada é excretada na forma de vários metabólitos21 e menos do que 10% é excretado inalterado. O metabólito23 primário na urina24 é um conjugado de 4-hidroxi-2,6-dimetilanilina.
A meia-vida de eliminação da lidocaína seguida de uma injeção25 intravenosa em bolus26 é tipicamente 1,5 a 2 horas. Devido à rápida velocidade em que a lidocaína é metabolizada, qualquer condição que afete a função hepática27 pode alterar a cinética28 da lidocaína. A meia-vida pode ser prolongada duas vezes ou mais em pacientes com disfunção hepática27. A disfunção renal29 não afeta a cinética28 da lidocaína, mas pode aumentar o acúmulo de metabólitos21.
Fatores como acidose30 e o uso de estimulantes e depressores do SNC31 influenciam os níveis de lidocaína no SNC31 necessários para produzir a manifestação de efeitos sistêmicos32. Reações adversas objetivas tornam-se muito mais aparentes com níveis venosos plasmáticos superiores a 6,0 mcg de base livre por ml.
Dados de segurança pré-clínica
A toxicidade10 observada após altas doses de lidocaína em estudos com animais consiste em efeitos no Sistema Nervoso Central11 e Sistema Cardiovascular33. Em estudos de toxicidade10 reprodutiva nenhuma relação da droga com os efeitos foi observada, nem a lidocaína mostrou potencial mutagênico nos testes de mutagenicidade in vitro ou in vivo. Não foram feitos estudos de câncer34 com lidocaína, devido ao local e a duração do uso desta droga.
- RESULTADOS DE EFICÁCIA
Östman PL e White PF, no capítulo sobre Anestesia16 Ambulatorial, citam dentre vários outros, a hemorroidectomia, restaurações dentárias e revisão de escaras35 como procedimentos ambulatoriais. Sendo que algumas vezes é necessário a suplementação36 anestésica ou analgesia nestes procedimentos ambulatoriais podendo estar indicada a utilização de técnicas de anestesia16 tópica. Dentre as drogas que podem ser utilizadas, os autores indicam como exemplo os cremes e aerosóis de lidocaína (Östman PL e White PF-Outpatient Anesthesia. Anesthesia Fourth Edition-Ronald D Miller editor 1994; 69 (2): 2214, 2234).
Kuo MJ et al., realizaram um estudo prospectivo37 randomizado38 sobre o uso e eficácia da lidocaína na forma pomada 5% em comparação com o uso de vaselina no tratamento da dor causada pelo uso de tampão nasal pós-cirurgia septal. Os pacientes foram avaliados através da escala analógica visual de dor e os resultados demonstraram que o uso de lidocaína diminuiu significativamente a dor nas primeiras 3 horas (P< 0,05), sendo que nas 6 horas seguintes e na remoção do tampão ocorreu uma diminuição importante da dor, mas não significativa. Os autores concluem que o uso tópico39 de lidocaína na forma pomada é segura e alivia a dor pós-operatória causada pelo tampão nasal (Kuo MJ et al. Clin Otolaryngol 1995; 20(4): 357-9).
Zolnoun DA et al., realizaram um estudo envolvendo o uso de pomada de lidocaína 5% no tratamento de vestibulite vulvar, avaliando através de uma escala analógica visual de dor a diminuição da dor ao coito. Os resultados demonstraram uma diminuição estatisticamente significativa, após o tratamento, no alívio da dor (P< 0,001) e uma habilidade maior para o coito (P= 0,02). Os autores consideraram a possibilidade de que este tratamento também beneficiaria as pacientes com cistite40 intersticial41 ou outros acometimentos da vulva42. Entretanto, é possível a conclusão de que o uso noturno de pomada de lidocaína 5% à longo prazo mostra-se promissor no tratamento da vestibulite vulvar (Zolnoun DA et al. Obstet Gynecol 2003; 102(1): 84-7).