INFORMAÇÕES TÉCNICAS CLORIDRATO DE MEMANTINA
Propriedades Farmacodinâmicas
O cloridrato de memantina pertence ao grupo químico adamantano (cloridrato de 1-amino-3,5-dimetiladamantano), um antagonista1 não-competitivo
dos canais iônicos associados a um tipo de receptor glutamatérgico, o receptor NMDA, de afinidade moderada e dependente de voltagem.
Existem cada vez mais indicações de que as perturbações na neurotransmissão glutamatérgica, especialmente nos receptores NMDA, contribuem
para a expressão dos sintomas2 e para a evolução da doença na demência3 neurodegenerativa.
O bloqueio destes receptores NMDA impede os efeitos de níveis patologicamente elevados de glutamato que podem levar à disfunção neuronal
e evita que o neurônio fique exposto a um influxo excessivo de cálcio, um dos mecanismos responsáveis pela morte neuronal. Esta propriedade
faz com que o cloridrato de memantina tenha um efeito neuroprotetor em condições de isquemia4 ou hipóxia5, o que explica sua eficácia em
diferentes estados clínicos, tais como distúrbios motores de origem central (Doença de Parkinson6, paralisia7 cerebral, bexiga8 neurogênica,
demências de várias etiologias).
Justifica ainda as indicações citadas, o fato de que a Doença de Parkinson6, o excesso de estimulação glutamatérgica originada pela hipofunção
dopaminérgica é bloqueado pelo cloridrato de memantina, neutralizando o desequilíbrio da neurotransmissão existente naquela moléstia.
Resultados de estudos clínicos
Um teste clínico numa população de pacientes com doença de Alzheimer9 moderadamente severa a severa (resultados totais de MMSE - Mini
Exame do Estado Mental - pontuação média inicial de 3 a 14) demonstraram efeitos benéficos do tratamento com memantina em comparação
com o placebo10, durante em período de tratamento de 6 meses.
Neste estudo multicêntrico, duplo-cego, randomizado11 e controlado por placebo10, foi incluído um total de 252 pacientes (33% homens, 67% mulheres,
com idade média de 76 anos). A dose utilizada foi de 10 mg de memantina, duas vezes por dia (20mg/dia). Os parâmetros de resultados primários
incluíram a análise do funcionamento global (utilização do CIBIC - Plus [ Clinicians Interview - Based Impression of Change] e da capacidade
funcional (uttilização de ADCS-ADLsev [Activities of Daily Living Inventory]). A cognição12 foi avaliada como um parâmetro secundário de eficácia,
através do SIB (Severe Impairment Battery). Os resultados nestes domínios foram favoráveis para a memantina, em relação ao placebo10 (Análise
dos Casos Obervados (OC) para CIBIC-Plus: p=0,025; ADCS-ADLsev: p=0,003; SIB: p=0,002).
Após 6 meses a taxa de resposta individuais (resposta definida previamente como a estabilização ou melhora em dois domínios independentes)
foi de 29% para o grupo de memantina a 10% para o grupo de placebo10 (p=0,004).
Utilizando um critério triplo (resposta definida como a estabilização ou melhora em todos os três domínios: cognição12, domínios funcional e
global), existiram 11% de respostas para a memantina e 6% para o placebo10 (p=0,17).
Propriedades farmacocinéticas
Absorção
A memantina tem uma biodisponibilidade absoluta de aproximadamente 100% e não existem indicações de que os alimentos tenham influência
na absorção. (Tmáx após 3 a 8 horas).
Linearidade
Estudos em voluntários demonstraram farmacocinética linear no intervalo da dose de 10 a 40 mg.
Distribuição
Doses diárias de 20 mg resultam em concentrações plasmáticas de memantina no estado estável entre 70 e 150 ng/mg (0,5-1 μmol) com variações
interindividuais de grande amplitude.
Quando foram administradas doses diárias de 5 a 30 mg, foi calculada uma taxa média Líquido Céfalo Raquidiano/Soro13 de 0,52. O volume de
distribuição é próximo de 10L/Kg. Cerca de 45% de memantina está associada a proteínas14 plasmáticas.
Biotransformação
No ser humano, cerca de 80% das substâncias relacionadas com a memantina em circulação15 estão presentes como o composto original. Os metabólitos16
principais no ser humano são o N-3,5-dimetil-gludantano, a mistura isomérica de 4- e 6-hidroxi-memantina e 1-nitroso-3,5-dimetiladamantano.
Nenhum destes metabólitos16 demonstra atividade antagônica de NMDA. Não foi detectado metabolismo17 de catálise do citocromo P450 in vitro.
Num estudo com 14C-memantina administrada oralmente, uma média de 84% da dose foi recuperada em 20 dias, 99% dos quais por excreção renal18.
Eliminação
A memantina é eliminada de forma monoexponencial com meio vida de eliminação de 60 a 100 horas. Em voluntários com função renal18 normal,
a eliminação total (Cl`) tem o valor de 170 ml/min/1,73 m2 e parte da eliminação renal18 total é realizada por secreção tubular.
A eliminação renal18 também envolve reabsorção tubular, provavelmente mediada por proteínas14 de transporte de cátions. A taxa de eliminação
renal18 da memantina em condições de urina19 alcalina poderá ser reduzida por um fator de 7 a 9. A alcalinização da urina19 pode resultar de mudanças
drásticas na dieta ou uma ingestão de grande quantidade de tampões gástricos alcalinizantes.
População de pacientes específicos
Em voluntários idosos com função renal18 normal e reduzida (eliminação de creatinina20 de 50 - 100 ml/min/1,73 m2), foi observada uma correlação
significativa entre a eliminação de creatinina20 e a eliminação renal18 total da memantina.
O efeito de doenças hepáticas21 na farmacocinética da memantina não foi estudado. Uma vez que a memantina é metabolizada apenas em
pequena escala e em metabólitos16 sem atividade antagônica de nmda, não são esperadas alterações farmacocinéticas de relevância clínica
em insuficiências hepáticas21 leves a moderadas.
Relação farmacocinética/farmacodinâmica
A uma dose de cloridrato de memantina de 20 mg por dia, os níveis do líquido céfalo raquidiano correspondem ao valor Ki (Ki = constante de
inibição) da memantina, que é de 0,5 μmol no córtex frontal humano.
Dados de Segurança Pré-Clínica
Em estudos de efeitos a curto prazo em ratazanas, a memantina tal como outros antagonistas de NMDA, apenas induziu vacuolização e necrose22
neuronal (lesões23 de Olney) quando administrada em doses que conduzem a concentrações séricas máximas muito elevadas. A ataxia24 e outros
sinais25 pré-clínicos precedem a vacuolização e necrose22. Uma vez que os efeitos nunca foram observados em estudos a longo prazo em roedores
ou não roedores, a relevância clínica destes resultados é desconhecida.
Foram observadas inconsistentemente alterações oculares em estudos de doses tóxicas repetidas em roedores e cães, mas não em macacos.
Os exames oftalmológicos específicos nos estudos clínicos com memantina não revelaram alterações oculares.
Foi observada fosfolipidose nos macrófagos pulmonares26 devido à acumulação de memantina nos lisossomas em roedores. Este efeito é conhecido
em outros medicamentos com propriedades anfiílicas catiônicas. Existe uma relação possível entre esta acumulação e a vacuolização observada
nos pulmões27. Este efeito apenas foi observado com doses elevadas em roedores. A relevância clínica destes resultados é desconhecida.
Não foi observada genotoxicidade após o teste da memantina em ensaios normais. Não existem indícios de oncogenicidade em estudos vitalícios
em ratos e ratazanas. A memantina não foi teratogênica28 em ratazanas e coelhos, mesmo em doses tóxicas maternas, e não foram observados
efeitos adversos na fertilidade. Nas ratazanas, a redução do crescimento do feto29 foi observada a níveis de exposição idênticos ou ligeiramente
superiores aos níveis humanos.