
INFORMAÇÕES TÉCNICAS OXCARBAZEPINA
Farmacodinâmica
Classe terapêutica1: agente antiepiléptico.
A atividade farmacológica de oxcarbazepina é primariamente manifestada através do metabólito2 MHD (monohidróxiderivado) da oxcarbazepina (veja Farmacocinética - biotransformação). Acredita-se que o mecanismo de ação da oxcarbazepina e MHD seja baseado principalmente no bloqueio de canais de sódio voltagem-dependentes, resultando então na estabilização de membranas neurais hiperexcitadas, inibição da descarga neuronal repetitiva e diminuição da propagação de impulsos sinápticos.
Adicionalmente, aumento na condutância de potássio e modulação de canais de cálcio voltagem - dependentes ativados pode também contribuir para os efeitos anticonvulsivantes das drogas. Não foram encontradas interações significantes com neurotransmissores cerebrais ou sítios receptores moduladores.
A oxcarbazepina e seu metabólito2 ativo (MHD) são anticonvulsivantes potentes e eficazes em animais. Foram eficazes em roedores com crises tônico-clônicas generalizadas e, em menor grau, com crises clônicas, e aboliram ou reduziram a freqüência de crises parciais recorrentes cronicamente em macacos Rhesus com implantes de alumínio.
Nenhuma tolerância foi observada (por ex.: atenuação de atividade anticonvulsivante) nas crises tônico-clônicas quando camundongos e ratos foram tratados diariamente por 5 dias ou 4 semanas respectivamente, com oxcarbazepina ou MHD.
Estudos clínicos
Têm-se dados de 10 estudos duplo-cegos, bem controlados, 2 como terapia adjuvante e 8 em monoterapia que foram conduzidos em pacientes com crises parciais, as quais incluíram subtipos de crises simples, complexas e crises parciais que evoluíram para crises com generalização secundária. Todos os estudos comparativos também incluíram pacientes com crises tônico-clônicas generalizadas. Dois estudos bem controlados de substituição de monoterapia, nos quais os pacientes receberam uma variedade de drogas antiepilépticas (DAEs) que incluíram carbamazepina, gabapentina, lamotrigina, fenitoína e valproato, confirmaram eficácia quando essas DAEs foram substituídas por oxcarbazepina. Dois estudos foram conduzidos em crianças, um em terapia adjuvante versus placebo3, e outro em uma comparação à monoterapia com fenitoína. A eficácia foi demonstrada com doses de 600 mg/dia a 2400 mg/dia em todos os parâmetros de eficácia primária, os quais incluíram mudança na média de freqüência de crise a partir do basal e menor tempo para se obter critérios de efeito preestabelecidos, e a eficácia como monoterapia, foi demonstrada pela porcentagem de pacientes que preencheram os critérios de eficácia. Demonstrou-se que oxcarbazepina tem eficácia semelhante a outras drogas antiepilépticas de primeira linha (por ex.: ácido valpróico, fenitoína e carbamazepina), com perfil de tolerabilidade estatisticamente superior ao da fenitoína, em relação a descontinuações por eventos adversos, sendo que uma proporção de pacientes significativamente maior permaneceu em tratamento com oxcarbazepina. Proporções semelhantes de pacientes com crises tônico-clônicas parciais e generalizadas, que foram tratados com oxcarbazepina, não apresentaram crises por mais de 12 meses de tratamento durante estes estudos.
Farmacocinética
• Absorção
Após a administração oral deste medicamento, a oxcarbazepina é completamente absorvida e extensivamente metabolizada em seu metabólito2 farmacologicamente ativo (10-monohidróxi derivado, MHD).
Após a administração de uma dose única de 600 mg de oxcarbazepina em voluntários sadios do sexo masculino sob condições aceleradas, a média do valor de Cmax de MHD foi 34 mcmol/L, o que corresponde ao tmax igual a 4,5 horas. Em um estudo de balanço de massa em homens, apenas 2% do total de radioatividade no plasma4 foi devido à oxcarbazepina inalterada, aproximadamente 70% foi devido ao MHD, e o remanescente foi atribuído aos metabólitos5 secundários menores, os quais foram rapidamente eliminados.
A alimentação não tem nenhum efeito na proporção e extensão da absorção da oxcarbazepina, portanto, este medicamento pode ser administrado com ou sem alimentação.
• Distribuição
Os picos de concentração plasmática são obtidos num período de 4 horas.
O volume aparente de distribuição do MHD é de 49 litros. Aproximadamente 40% de MHD liga-se à proteínas6 séricas, predominantemente à albumina7. A ligação foi independente da concentração sérica dentro da extensão terapeuticamente relevante.
A oxcarbazepina e o MHD não se ligam à alfa-1-glicoproteína ácida.
• Biotransformação
A oxcarbazepina é rapidamente biotransformada por enzimas citosólicas no fígado8 em MHD, o qual é primariamente responsável pelo efeito farmacológico deste medicamento.
MHD é metabolizado extensivamente pela conjugação com ácido glicurônico.
Quantidades menores (4% da dose) são oxidadas para o metabólito2 farmacologicamente inativo (derivado 10,11-dihidróxi, DHD).
• Eliminação
A oxcarbazepina é eliminada do organismo principalmente sob a forma de metabólitos5, os quais são principalmente excretados pelos rins9. Mais de 95% da dose aparece na urina10, com menos de 1% como oxcarbazepina inalterada. A quantidade excretada nas fezes representa menos de 4% da dose administrada. Aproximadamente 80% da dose é excretada na urina10 também como glicuronídeos de MHD (49%) ou como MHD inalterado (27%), enquanto a quantidade do metabólito2 DHD inativo é aproximadamente 3% e a quantidade de conjugados da oxcarbazepina é 13% da dose. A oxcarbazepina é rapidamente eliminada do plasma4 com valor aparente de meiavida plasmática entre 1,3 e 2,3 horas. Por outro lado, a meia-vida plasmática média aparente do MHD é 9,3 ± 1,8 h.
Proporcionalidade da dose
Quando oxcarbazepina é administrada duas vezes ao dia, as concentrações plasmáticas de steady-state (estado de equilíbrio) do MHD são alcançadas dentro de 2-3 dias. No steady-state (estado de equilíbrio) a farmacocinética do MHD é linear e demonstra uma proporcionalidade de dose na extensão de 300 a 2400 mg/dia.
Populações especiais de pacientes
- Crianças
Após a administração de dose única de 5 ou 15 mg/kg, o valor de AUC11 dose ajustada de MHD foi 30% mais baixo em crianças com idade de 2-5 anos do que em crianças com idade de 6-12 anos. Em geral, em crianças com função renal12 normal, o clearance (depuração) renal12 de MHD para um peso corpóreo normal é mais alto do que em adultos. Em crianças, foi observada uma redução de 10% a 50% da meia-vida de eliminação de MHD (5 a 9 horas) quando comparada com os adultos (10 horas).
- Sexo
Não têm sido observadas diferenças na farmacocinética relacionadas ao sexo em crianças, adultos ou idosos.
- Idosos
Após a administração de dose única (300 mg) e múltiplas doses (600 mg/dia) de oxcarbazepina em voluntários idosos (60 a 82 anos de idade) as concentrações plasmáticas máximas e valores AUC11 de MHD foram 30% a 60% mais altos do que em voluntários jovens (18-32 anos de idade). As comparações dos clearances (depurações) de creatinina13 em voluntários jovens e idosos indicam que a diferença foi em virtude das reduções relacionadas à idade no clearance (depuração) de creatinina13. Não é necessária nenhuma recomendação especial de dose, porque as doses terapêuticas são individualmente ajustadas.
- Insuficiência hepática14
A farmacocinética e o metabolismo15 da oxcarbazepina e MHD foram avaliados em voluntários sadios e em indivíduos com insuficiência hepática14 após dose oral de 900 mg.
Insuficiência hepática14 leve a moderada não afetou a farmacocinética da oxcarbazepina e MHD. A oxcarbazepina não foi estudada em pacientes com insuficiência hepática14 grave.
- Insuficiência renal16
Há uma correlação linear entre o clearance (depuração) de creatinina13 e o clearance (depuração) renal12 de MHD. Quando a oxcarbazepina é administrada como uma dose única de 300 mg, em pacientes com disfunção renal12 (clearance de creatinina13 < 30 mL/min), a meia-vida de eliminação de MHD é prolongada por 60-90% (16 a 19 horas) com o dobro do aumento na AUC11 correspondente (10 horas).
Dados de segurança pré-clínicos
Dados de estudos pré-clínicos não demonstraram nenhum risco especial para humanos, baseados em estudos de toxicidade17 após doses repetidas, segurança, farmacologia18 e genotoxicidade com oxcarbazepina e seu metabólito2 farmacologicamente ativo, monohidróxiderivado (MHD).
Evidências de nefrotoxicidade19 foram notadas em estudo de toxicidade17 após doses repetidas com ratos, mas não em estudos com cães ou camundongos. Não há relatos de alterações semelhantes em pacientes, a relevância clínica destas descobertas em ratos permanece desconhecida. Testes imunoestimulatórios em camundongos mostraram que MHD (e a oxcarbazepina em menor extensão) pode induzir uma hipersensibilidade tardia.
Estudos em animais revelaram efeitos semelhantes aos aumentos na incidência20 de mortalidade21 embrionária e retardo no crescimento pré-natal e/ou pós-natal para níveis de doses maternalmente tóxicas. Nestes estava um aumento nas malformações22 fetais em ratos em um dos oito estudos de toxicidade17 embrionária, que foram conduzidos tanto com oxcarbazepina como com o metabólito2 farmacologicamente ativo (MHD), e com uma dose que também mostrou toxicidade17 materna (veja Gravidez23 e lactação24).
Nos estudos de carcinogenicidade, foram induzidos tumores hepáticos (ratos e camundongos) e tumores testiculares (ratos) em animais tratados. A ocorrência de tumores hepáticos foi atribuída à indução de enzimas microssômicas hepáticas25; um efeito indutivo que, embora não possa ser excluído, é fraco ou ausente em pacientes tratados com oxcarbazepina. Tumores testiculares podem ter sido induzidos por concentrações elevadas de hormônio26 luteinizante. Devido à ausência de tal aumento em humanos, estes tumores são considerados sem relevância clínica. Um pequeno aumento no número de tumores de células27 granulosas do trato genital feminino foi notado em um estudo em ratos. O significado clínico desses tumores observados na vagina28 e colo29 de ratas é, até o presente, desconhecido. Foi proposto que esses são estrógeno30-dependentes, específicos para ratos e irrelevantes para o uso clínico de oxcarbazepina. Estudos para investigar o mecanismo proposto estão sendo iniciados.