CARACTERÍSTICAS FARMACOLÓGICAS DIOVAN TRIPLO
Farmacodinâmica
Valsartana + Hidroclorotiazida
O hormônio1 ativo do SRAA é a angiotensina II, formada a partir da angiotensina I pela enzima2 conversora da angiotensina (ECA). A angiotensina II liga-se a receptores específicos localizados na membrana das células3 de vários tecidos, exercendo diversos efeitos fisiológicos, direta e indiretamente, na regulação da pressão arterial4. Por ser um potente vasoconstritor, a angiotensina II exerce uma resposta pressora direta e, além disso, promove retenção de sódio e estimula a secreção de aldosterona.
A valsartana é um antagonista5 dos receptores de angiotensina II (Ang II) potente e específico, ativo por via oral. Atua seletivamente no receptor subtipo AT1, responsável pelas conhecidas ações da angiotensina II. Os níveis plasmáticos elevados da Ang II após bloqueio da Angiotensina I com valsartana podem estimular o receptor AT2 não bloqueado, que aparentemente contrablanceia o efeito do receptor AT1. A valsartana não apresenta atividade agonista6 parcial sobre os receptores AT1 e apresenta afinidade muito maior (cerca de 20.000 vezes) para com receptores AT1 do que para com receptores AT2.
A valsartana não inibe a ECA, também conhecida como cininase II, que converte angiotensina I em angiotensina II e degrada a bradicinina7. Nenhuma potencialização de efeitos colaterais8 relacionados a bradicinina7 é esperada. Em estudos clínicos em que a valsartana foi comparada com inibidores da ECA, a incidência9 de tosse seca foi significativamente menor (p < 0,05) em pacientes tratados com valsartana do que naqueles tratados com inibidores da ECA (2,6% contra 7,9%, respectivamente). Em um estudo clínico em pacientes com história de tosse seca durante terapêutica10 com inibidores da ECA, 19,5% dos pacientes que recebiam valsartana e 19,0% dos que recebiam um diurético11 tiazídico apresentaram episódios de tosse, comparativamente a 68,5% daqueles tratados com inibidores da ECA (p < 0,05). A valsartana não se liga ou bloqueia outros receptores hormonais12 ou canais de íons13 importantes na regulação cardiovascular.
A administração de valsartana a pacientes com hipertensão14 reduz a pressão arterial4, sem afetar a frequência cardíaca.
Na maioria dos pacientes, após a administração de uma dose única oral, o início da atividade antihipertensiva ocorre dentro de duas horas e o pico de redução da pressão arterial4 é atingido em 4 – 6 horas. O efeito anti-hipertensivo persiste por 24 horas após a administração. Durante administrações repetidas, a redução máxima da pressão arterial4 com qualquer dose é geralmente atingida em 2 – 4 semanas e se mantém durante a terapia em longo prazo. Em associação com hidroclorotiazida, obtém-se uma redução adicional significativa na pressão arterial4.
O sítio de ação dos diuréticos15 tiazídicos é, principalmente, o túbulo contornado distal16 dos rins17. Está demonstrado que existe uma alta afinidade por receptores no córtex renal18, sendo os mesmos o sítio de ligação principal para a ação dos diuréticos15 tiazídicos e a inibição do transporte de NaCl no túbulo contornado distal16. O mecanismo de ação dos diuréticos15 tiazídicos é a promoção de uma inibição acentuada do transporte dos íons13 Na+ e Cl-, talvez por competição pelo sítio de ligação para Cl-, o que afeta os mecanismos de reabsorção de eletrólitos19. Assim, obtém-se diretamente uma excreção aumentada de sódio e cloro em quantidades aproximadamente iguais. Indiretamente, a ação diurética reduz o volume plasmático, com consequente aumento da atividade da renina plasmática, aumento da secreção de aldosterona, levando ao aumento na perda urinária de potássio e redução do potássio sérico. A ligação renina-aldosterona é mediada pela angiotensina II e, portanto, a administração concomitante de um antagonista5 de angiotensina II tende a reverter o quadro de perda urinária de potássio associada a esses diuréticos15.
Anlodipino
O anlodipino é um inibidor do influxo do íon20 de cálcio (bloqueador do canal lento de cálcio ou antagonista5 do íon20 cálcio) e inibe o influxo transmembrana do íon20 cálcio para o interior da musculatura lisa cardíaca e vascular21.
O mecanismo da ação anti-hipertensiva deve-se ao efeito relaxante direto na musculatura vascular21 lisa.
O mecanismo preciso pelo qual o anlodipino alivia a angina22 não está completamente definido, mas reduz o grau de isquemia23 total pelas duas seguintes ações:
- dilata as arteríolas24 periféricas e, desta maneira, reduz a resistência periférica25 total (pós-carga) contra o trabalho cardíaco. Uma vez que a frequência cardíaca permanece estável, esta redução de carga diminui o consumo de energia miocárdica e a necessidade de oxigênio.
- o mecanismo de ação também envolve, provavelmente, a dilatação das artérias coronárias26 principais e arteríolas24 coronárias, em regiões normais e isquêmicas. Esta dilatação aumenta a liberação de oxigênio no miocárdio27 em pacientes com espasmo28 coronariano arterial (angina22 de Prinzmetal ou angina22 variante) e abranda a vasoconstrição29 coronariana induzida pelo fumo.
Em pacientes com hipertensão14, a dose única diária proporciona reduções clinicamente significantes na pressão sanguínea durante o intervalo de 24 horas, tanto nas posições supina quanto do indivíduo em pé. Devido ao lento início de ação, a hipotensão30 aguda não constitui uma característica da administração de anlodipino.
Em pacientes com angina22, a administração de dose única diária de anlodipino aumenta o tempo total de exercício, tempo de início da angina22 e tempo para atingir 1 mm de depressão no segmento ST, além de diminuir a frequência de crises anginosas e o consumo de comprimidos de nitroglicerina.
Os estudos in vitro demonstraram que cerca de 97,5% do anlodipino circulante está ligado às proteínas31 plasmáticas.
O anlodipino não foi associado a qualquer efeito metabólico adverso ou alteração nos lípides plasmáticos, sendo adequada para uso em pacientes com asma32, diabetes33 e gota34.
Farmacocinética
Valsartana
A absorção de valsartana após administração oral é rápida, embora a quantidade absorvida varie amplamente. A biodisponibilidade absoluta média para a valsartana é de 23%. A valsartana apresenta um decaimento cinético multiexponencial (t1/2 alfa < 1h e t1/2 beta cerca de 9 h).
A farmacocinética da valsartana é linear no intervalo de dosagem testada. Não ocorrem alterações na cinética35 da valsartana em administrações repetidas e há pouco acúmulo, quando administrado uma vez ao dia. As concentrações plasmáticas observadas foram similares em homens e mulheres.
A valsartana apresenta alta taxa de ligação a proteínas31 séricas (94 – 97%), principalmente a albumina36 sérica. O volume de distribuição no steady-state (estado de equilíbrio) é baixo (cerca de 17 litros). O clearance (depuração) plasmático é relativamente lento (cerca de 2 litros/h), quando comparado com a circulação37 sanguínea hepática38 (cerca de 30 litros/h). Do total da dose absorvida, 70% são excretados nas fezes e 30% na urina39, principalmente como composto inalterado.
Quando administrado com as refeições, a área sob a curva de concentração plasmática (AUC40) de valsartana sofre redução de 48%, embora cerca de 8 horas após a administração as concentrações plasmáticas de valsartana sejam similares em pacientes que ingeriram o produto em jejum ou com alimentos. A redução da AUC40, entretanto, não se acompanha de redução clinicamente significativa nos efeitos terapêuticos.
Hidroclorotiazida
A absorção da hidroclorotiazida, após dose oral, é rápida (tmáx em torno de 2 h), com absorção similar para as formas farmacêuticas suspensão e comprimidos. As cinéticas41 de distribuição e de eliminação são descritas, geralmente, por uma função de decaimento biexponencial, com uma meia-vida terminal de 6 – 15 horas.
O aumento de concentração média na área sob a curva é linear e dose-proporcional na faixa terapêutica10. Não ocorrem alterações na cinética35 da hidroclorotiazida em administrações repetidas e o acúmulo é mínimo quando administrada em dose única diária.
A biodisponibilidade absoluta da hidroclorotiazida é de 60 – 80% após administração oral, com > 95% da dose absorvida são excretados na urina39 como composto inalterado e cerca de 4% como composto hidrolisado (2-amino-4-cloro-m-benzenodisulfonamida).
Tem sido relatado que a administração concomitante com alimentos pode tanto diminuir como aumentar a disponibilidade sistêmica da hidroclorotiazida, comparando-se com a administração em jejum. A magnitude desse efeito é pequena e tem pouca importância clínica.
Valsartana + hidroclorotiazida
A disponibilidade sistêmica da hidroclorotiazida é reduzida em cerca de 30% quando a droga é administrada com valsartana. A cinética35 da valsartana não é acentuadamente afetada pela administração concomitante com hidroclorotiazida. Essa interação observada não tem impacto no uso combinado de valsartana e hidroclorotiazida, uma vez que os estudos clínicos têm demonstrado claramente um efeito anti-hipertensivo maior do que o obtido com o medicamento isolado ou com placebo42.
Populações de pacientes especiais
Pacientes idosos
Observou-se uma exposição sistêmica a valsartana um pouco maior em indivíduos idosos do que em indivíduos jovens; entretanto, isso demonstrou não ter qualquer significado clínico.
Dados limitados sugerem que o clearance (depuração) sistêmico43 da hidroclorotiazida está reduzido tanto em idosos sadios como em idosos hipertensos, comparando-se com voluntários jovens sadios.
Pacientes com insuficiência renal44
Não é necessário ajuste de dosagem, em pacientes com clearance (depuração) de creatinina45 entre 30 – 70 mL/min.
Não existem dados disponíveis sobre o uso de valsartana + hidroclorotiazida em pacientes com insuficiência renal44 grave (clearance (depuração) de creatinina45 < 30 mL/min) ou em pacientes sob diálise46.
No entanto, a valsartana possui alta taxa de ligação a proteínas31 séricas, sendo improvável sua remoção por diálise46, enquanto que o clearance (depuração) da hidroclorotiazida pode ser aumentado pela diálise46.
O clearance (depuração) renal47 da hidroclorotiazida dá-se por filtração passiva e secreção ativa no túbulo renal47. Como esperado para um composto excretado quase que exclusivamente pelos rins17, a função renal47 determina efeito acentuado sobre a cinética35 da hidroclorotiazida (vide “Contraindicações”).
Pacientes com insuficiência hepática48
Em um estudo farmacocinético realizado em pacientes portadores de distúrbios hepáticos leves (n = 6) a moderados (n = 5), a exposição à valsartana aumentou em aproximadamente duas vezes, quando comparada à de pessoas sadias. Não existem dados sobre o uso de valsartana em pacientes com distúrbios graves da função hepática38 (vide “Precauções e Advertências”).
Distúrbios hepáticos não afetam significativamente a farmacocinética da hidroclorotiazida, não sendo necessário qualquer ajuste de dosagem.
Anlodipino
- Absorção
Após administração oral de doses terapêuticas, o anlodipino é bem absorvido com picos plasmáticos entre 6 e 12 horas após a dose. A biodisponibilidade absoluta foi estimada entre 64 e 80%. O volume de distribuição é de aproximadamente 21 L/kg. A absorção não é alterada pela ingestão de alimentos.
- Metabolismo49/Eliminação
A meia-vida de eliminação terminal plasmática é de cerca de 35 a 50 horas, o que é consistente com a dose única diária. Os níveis plasmáticos no estado de equilíbrio (steady-state) são obtidos após 7-8 dias de doses consecutivas. O anlodipino é amplamente metabolizado no fígado50 em metabólitos51 inativos, com 10% do fármaco52 inalterado e 60% dos metabólitos51 excretados na urina39.
Uso em Pacientes Idosos
O tempo para alcançar o pico de concentração plasmática do anlodipino é similar para indivíduos jovens e idosos. Em pacientes idosos, o clearance tende a estar diminuído, resultando em aumentos na área sob a curva (AUC40) e na meia-vida de eliminação plasmática. Em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva53, aumentos na área sob a curva (AUC40) e na meia-vida de eliminação ocorreram conforme o esperado para pacientes54 com a idade do grupo estudado.