INFORMAÇÕES TÉCNICAS CARBAMAZEPINA

Atualizado em 18/05/2016

Farmacodinâmica
Como agente antiepiléptico, o espectro de atividade da carbamazepina inclui: crises parciais (simples e complexas) com ou sem generalização secundária; crises tônicoclônicas generalizadas (grande mal), assim como combinações destes tipos de epilepsia1.
Estudos clínicos mostraram que a carbamazepina administrada em monoterapia a pacientes com epilepsia1, em particular crianças e adolescentes, exerce uma ação psicotrópica, incluindo efeito positivo sobre os sintomas2 de ansiedade e depressão, assim como diminuição na irritabilidade e agressividade.
Com relação às funções cognitivas e psicomotoras, em alguns estudos foram observados efeitos duvidosos ou negativos, dependendo também das doses administradas.
Em outros estudos, foram observados efeitos benéficos sobre a atenção, memória e funções cognitivas.
Como agente neurotrópico, a carbamazepina é clinicamente eficaz em vários distúrbios neurológicos (por ex.: prevenção de crises paroxísticas de dor em neuralgia3 idiopática4 do trigêmio). Na síndrome5 de abstinência alcoólica, eleva o limiar convulsivo e melhora sintomas2 de abstinência como hiperexcitabilidade, tremor e deficiência na deambulação6; reduz o volume urinário e alivia a sensação de sede na diabetes insipidus7 centralis.
Como agente psicotrópico8, a carbamazepina provou ter eficácia clínica em distúrbios afetivos, como por exemplo no tratamento da mania e também na prevenção do distúrbio maniacodepressivo (bipolar) quando administrado como monoterapia ou em associação com neurolépticos9, antidepressivos ou lítio.
O mecanismo de ação da carbamazepina só foi parcialmente elucidado. A carbamazepina estabiliza a membrana do nervo hiperexcitado, inibe a descarga neuronal repetitiva e reduz a propagação sináptica dos impulsos excitatórios. Considera-se que o bloqueio dos canais de sódio sensíveis à diferença de potencial pode ser um ou mesmo o principal mecanismo de ação primário da carbamazepina. Tais efeitos, assim como a ação depressiva da carbamazepina no turnover (quantidade metabolizada) de catecolamina e na liberação de glutamato, poderia possivelmente resultar deste efeito primário. Enquanto a redução da liberação de glutamato e estabilização das membranas neuronais podem ser consideradas responsáveis principalmente pelos efeitos antiepilépticos, o efeito depressivo no turnover de dopamina10 e noradrenalina11 poderiam ser responsáveis pelas propriedades antimaníacas deste medicamento.

Farmacocinética
 - Absorção
A carbamazepina administrada na forma de comprimidos é absorvida quase completamente, porém, de maneira relativamente lenta. Os comprimidos apresentam um pico plasmático médio da substância inalterada em 12 horas após uma dose oral única. A flutuação das concentrações plasmáticas com um regime posológico de duas administrações diárias é baixa.
A ingestão de alimentos não tem influência significativa na taxa e na extensão da absorção, em relação à forma farmacêutica da carbamazepina.
As concentrações plasmáticas de steady-state (estado de equilíbrio) da carbamazepina são atingidas em cerca de uma a duas semanas, dependendo da auto-indução individual pela carbamazepina e pela heteroindução por outros fármacos indutores enzimáticos, bem como do pré-tratamento, da posologia e da duração do tratamento.
 - Distribuição:
A carbamazepina está ligada a proteínas12 séricas em 70 a 80%. A concentração de substância inalterada no líquido cerebroespinhal e na saliva, reflete a parte da ligação não-protéica no plasma13.
As concentrações encontradas no leite materno, foram equivalentes a 25 a 60% dos níveis plasmáticos correspondentes. A carbamazepina atravessa a barreira placentária.
Assumindo a completa absorção da carbamazepina, o volume aparente de distribuição varia de 0,8 a 1,9 L/kg.
 - Eliminação:
A meia-vida média de eliminação da carbamazepina inalterada é de aproximadamente 36 horas após uma dose oral única, sendo que, após a administração oral repetida, a média é de 16 a 24 horas (sistema de auto-indução da monoxigenase hepática14), dependendo da duração do tratamento. Em pacientes que recebem tratamento concomitante com outros fármacos indutores de enzimas hepáticas15 (por ex. fenitoína, fenobarbital), a meia-vida média encontrada é de 9 a 10 horas. A meia-vida média de eliminação do metabólito16 10,11-epóxido no plasma13 é cerca de 6 horas após dose única oral do próprio epóxido. Após a administração de uma dose oral única de 400 mg de carbamazepina, 72% são excretadas na urina17 e 28% nas fezes. Na urina17, cerca de 2% da dose são recuperados como substância inalterada e cerca de 1% como metabólito16 10,11-epóxido, farmacologicamente ativo. A carbamazepina é metabolizada no fígado18, onde a biotransformação via epóxido é a mais importante, tendo o derivado 10,11-trans-diol e seu glicuronido como principais metabólitos19. O 9-hidroxi-metil-10-carbamoil acridan é um metabólito16 menor relacionado a esta via. Após uma dose oral única de carbamazepina, cerca de 30% aparecem na urina17 como produto final da via epóxido. Outra via de transformação importante para a carbamazepina leva a vários compostos monohidroxilados, bem como ao N-glicuronido da carbamazepina.
 - Características individuais:
As concentrações plasmáticas de steady-state (estado de equilíbrio) da carbamazepina, consideradas como " intervalo terapêutico" , variam consideravelmente de indivíduo para indivíduo: há relatos de intervalo entre 4 e 12 mcg/mL correspondente a 17 a 50 mcmol/L. As concentrações de carbamazepina-10,11-epóxido, metabólito16 farmacologicamente ativo, foram cerca de 30% dos níveis de carbamazepina.
Em função de maior eliminação da carbamazepina, as crianças podem requerer doses mais altas deste fármaco20 (em mg/kg) do que os adultos. Não há indicação de alteração da farmacocinética da carbamazepina em pacientes idosos quando comparados com adultos jovens.
Não há dados disponíveis sobre a farmacocinética da carbamazepina em pacientes com distúrbio de função hepática14 ou renal21.

Dados pré-clínicos de segurança
Estudos crônicos em animais, utilizando carbamazepina, demonstraram um aumento na incidência22 de tumores de fígado18. O significado destes achados relativos ao uso de carbamazepina em humanos é, até o presente, desconhecido.
Estudos de mutagenicidade em bactérias e mamíferos apresentaram resultados negativos.
A administração oral de carbamazepina durante a organogênese, em animais, levou a um aumento da mortalidade23 do embrião em doses diárias que causaram toxicidade24 na mãe. Também houve indício de abortamento25, em ratos, na dose diária de 300 mg/kg de peso corporal. Fetos de ratos próximos ao termo, mostraram retardamento no crescimento,
novamente em doses tóxicas para a mãe. Estudos em animais não evidenciaram potencial teratogênico26, porém, em estudo utilizando camundongos, a carbamazepina causou anomalias (principalmente a dilatação dos ventrículos cerebrais).

Antes de consumir qualquer medicamento, consulte seu médico (http://www.catalogo.med.br).

Complementos

1 Epilepsia: Alteração temporária e reversível do funcionamento cerebral, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou espalhar-se. Quando restritos, a crise será chamada crise epiléptica parcial; quando envolverem os dois hemisférios cerebrais, será uma crise epiléptica generalizada. O paciente pode ter distorções de percepção, movimentos descontrolados de uma parte do corpo, medo repentino, desconforto no estômago, ver ou ouvir de maneira diferente e até perder a consciência - neste caso é chamada de crise complexa. Depois do episódio, enquanto se recupera, a pessoa pode sentir-se confusa e ter déficits de memória. Existem outros tipos de crises epilépticas.
2 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
3 Neuralgia: Dor aguda produzida pela irritação de um nervo. Caracteriza-se por ser muito intensa, em queimação, pulsátil ou semelhante a uma descarga elétrica. Suas causas mais freqüentes são infecção, lesão metabólica ou tóxica do nervo comprometido.
4 Idiopática: 1. Relativo a idiopatia; que se forma ou se manifesta espontaneamente ou a partir de causas obscuras ou desconhecidas; não associado a outra doença. 2. Peculiar a um indivíduo.
5 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
6 Deambulação: Ato ou efeito de deambular, passear ou marchar.
7 Diabetes insipidus: Condição caracterizada por micções freqüentes e volumosas, sede excessiva e sensação de fraqueza. Esta condição pode ser causada por um defeito na glândula pituitária ou no rim. Na diabetes insipidus os níveis de glicose estão normais.
8 Psicotrópico: Que ou o que atua quimicamente sobre o psiquismo, a atividade mental, o comportamento, a percepção, etc. (diz-se de medicamento, droga, substância, etc.). Alguns psicotrópicos têm efeito sedativo, calmante ou antidepressivo; outros, especialmente se usados indevidamente, podem causar perturbações psíquicas.
9 Neurolépticos: Medicamento que exerce ação calmante sobre o sistema nervoso, tranquilizante, psicoléptico.
10 Dopamina: É um mediador químico presente nas glândulas suprarrenais, indispensável para a atividade normal do cérebro.
11 Noradrenalina: Mediador químico do grupo das catecolaminas, liberado pelas fibras nervosas simpáticas, precursor da adrenalina na parte interna das cápsulas das glândulas suprarrenais.
12 Proteínas: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Alimentos que fornecem proteína incluem carne vermelha, frango, peixe, queijos, leite, derivados do leite, ovos.
13 Plasma: Parte que resta do SANGUE, depois que as CÉLULAS SANGÜÍNEAS são removidas por CENTRIFUGAÇÃO (sem COAGULAÇÃO SANGÜÍNEA prévia).
14 Hepática: Relativa a ou que forma, constitui ou faz parte do fígado.
15 Enzimas hepáticas: São duas categorias principais de enzimas hepáticas. A primeira inclui as enzimas transaminasas alaninoaminotransferase (ALT ou TGP) e a aspartato aminotransferase (AST ou TOG). Estas são enzimas indicadoras do dano às células hepáticas. A segunda categoria inclui certas enzimas hepáticas como a fosfatase alcalina (FA) e a gamaglutamiltranspeptidase (GGT) as quais indicam obstrução do sistema biliar, quer seja no fígado ou nos canais maiores da bile que se encontram fora deste órgão.
16 Metabólito: Qualquer composto intermediário das reações enzimáticas do metabolismo.
17 Urina: Resíduo líquido produzido pela filtração renal no organismo, estocado na bexiga e expelido pelo ato de urinar.
18 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
19 Metabólitos: Qualquer composto intermediário das reações enzimáticas do metabolismo.
20 Fármaco: Qualquer produto ou preparado farmacêutico; medicamento.
21 Renal: Relacionado aos rins. Uma doença renal é uma doença dos rins. Insuficiência renal significa que os rins pararam de funcionar.
22 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
23 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
24 Toxicidade: Capacidade de uma substância produzir efeitos prejudiciais ao organismo vivo.
25 Abortamento: Interrupção precoce da gravidez, espontânea ou induzida, seguida pela expulsão do produto gestacional pelo canal vaginal (Aborto). Pode ser precedido por perdas sangüíneas através da vagina.
26 Teratogênico: Agente teratogênico ou teratógeno é tudo aquilo capaz de produzir dano ao embrião ou feto durante a gravidez. Estes danos podem se refletir como perda da gestação, malformações ou alterações funcionais ou ainda distúrbios neurocomportamentais, como retardo mental.

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