INFORMAÇÕES TÉCNICAS AOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE SELENE
Características farmacológicas
Farmacodinâmica
A unidade pilossebácea, que consiste na glândula1 sebácea e no folículo piloso2, é um componente da pele3 sensível a ação de andrógenos4. Acne5, seborreia6, hirsutismo7 e alopecia8 androgênica são condições clínicas resultantes de alterações neste órgão alvo que podem ser causadas pelo aumento da sensibilidade ou níveis elevados de andrógeno9 no plasma10. Ambas as substâncias contidas em Selene (etinilestradiol + acetato de ciproterona) influenciam, beneficamente, o estado hiperandrogênico: o acetato de ciproterona, um antagonista11 competitivo do receptor de andrógeno9, apresenta efeito inibitório nas células12 alvo e produz diminuição da concentração de andrógeno9 no sangue13 através de um efeito antigonadotrópico.
Este efeito antigonadotrópico é ampliado pelo etinilestradiol que regula o aumento, assim como a síntese de globulinas14 de ligação aos hormônios sexuais (SHBG) no plasma10. Desse modo, reduz o andrógeno9 livre biologicamente presente na circulação15 sanguínea. O tratamento com Selene® (etinilestradiol + acetato de ciproterona) leva, geralmente após 3 a 4 meses de terapia, à resolução das erupções da acne5 preexistente. A oleosidade excessiva dos cabelos e da pele3 geralmente desaparece mais cedo. A alopecia8, a qual é acompanhada frequentemente de seborreia6, diminui do mesmo modo. Em mulheres que exibem formas leves de hirsutismo7 e, em particular, nos casos de leve aumento de pêlos faciais, os resultados apenas tornam-se aparentes após vários meses de tratamento.
O efeito contraceptivo de Selene (etinilestradiol + acetato de ciproterona) baseia-se na interação de diversos fatores, sendo que os mais importantes são inibição da ovulação16 e alterações na secreção cervical. Além da ação contraceptiva, as combinações estrogênio/ progestógeno apresentam propriedades positivas: o ciclo menstrual torna-se mais regular, a menstruação17 frequentemente menos dolorosa e o sangramento menos intenso, o que, neste último caso, pode reduzir a possibilidade de ocorrência de deficiência de ferro.
Farmacocinética
- acetato de ciproterona
Absorção:
O acetato de ciproterona, administrado por via oral, é rápida e completamente absorvido. Os níveis séricos máximos de 15 ng/mL são alcançados em cerca de 1,6 h após administração de dose única.
A biodisponibilidade é de cerca de 88%.
Distribuição:
O acetato de ciproterona liga-se quase que exclusivamente à albumina18 sérica. Cerca de 3,5 a 4,0% das concentrações séricas totais do acetato de ciproterona apresentam-se sob a forma livre. O aumento nos níveis de SHBG (globulinas14 de ligação aos hormônios sexuais) induzido pelo etinilestradiol não afeta a ligação do acetato de ciproterona à proteína sérica. O volume aparente de distribuição do acetato de ciproterona é de cerca de 986 ± 437 L.
Metabolismo19:
O acetato de ciproterona é quase que completamente metabolizado. O metabólito20 principal no plasma10 foi identificado como 15-beta-OH-CPA, o qual é formado via enzima21 CYP3A4 do citocromo P450. A taxa de depuração a partir do soro22 é de cerca de 3,6 mL/min/kg.
Eliminação:
Os níveis séricos do acetato de ciproterona diminuem em duas fases, caracterizadas por meias-vidas de cerca de 0,8 horas e 2,3 – 3,3 dias. O acetato de ciproterona é parcialmente excretado na forma inalterada. Seus metabólitos23 são excretados pelas vias urinária e biliar na proporção de 1:2. A meia-vida de excreção dos metabólitos23 é de cerca de 1,8 dias.
Condições no estado de equilíbrio:
A farmacocinética do acetato de ciproterona não é influenciada pelos níveis de SHBG. Após ingestão diária, os níveis séricos do acetato de ciproterona aumentam cerca de 2,5 vezes, atingindo as condições do estado de equilíbrio durante a segunda metade de um ciclo de tratamento.
- Etinilestradiol
Absorção:
O etinilestradiol, administrado por via oral, é rápida e completamente absorvido. Níveis séricos máximos de cerca de 71 pg/mL são alcançados em 1,6 horas. Durante a absorção e metabolismo19 de primeira passagem, o etinilestradiol é metabolizado extensivamente, resultando em biodisponibilidade oral média de aproximadamente 45%, com uma ampla variação interindividual de cerca de 20 a 65%.
Distribuição:
O etinilestradiol liga-se alta e inespecificamente à albumina18 sérica (aproximadamente 98%) e induz aumento das concentrações séricas de SHBG. Foi determinado um volume aparente de distribuição de cerca de 2,8 a 8,6 l/kg.
Metabolismo19:
O etinilestradiol está sujeito à conjugação pré-sistêmica, tanto na mucosa24 do intestino delgado25 como no fígado26. É metabolizado principalmente por hidroxilação aromática, mas com formação de diversos metabólitos23 hidroxilados e metilados que estão presentes nas formas livre e conjugada com glicuronídios e sulfato. A taxa de depuração do etinilestradiol é de cerca de 2,3 a 7 mL/min/kg.
Eliminação:
Os níveis séricos de etinilestradiol diminuem em duas fases de disposição, caracterizadas por meias-vidas de cerca de 1 hora e 10 a 20 horas, respectivamente. O etinilestradiol não é eliminado na forma inalterada; seus metabólitos23 são eliminados com meia-vida de aproximadamente um dia. A proporção de excreção é de 4 (urina27): 6 (bile28).
Condições no estado de equilíbrio:
As condições no estado de equilíbrio são alcançadas durante a segunda metade de um ciclo de tratamento, quando os níveis séricos de etinilestradiol elevam-se em 60%, quando comparados com dose única.
Dados de segurança pré-clínica
- Etinilestradiol
O perfil de toxicidade29 do etinilestradiol é bem conhecido. Não há dados de relevância pré-clínica, que forneçam informações adicionais de segurança, além daquelas mencionadas em outros itens desta bula.
- Acetato de ciproterona
Toxicidade29 sistêmica:
Dados pré-clínicos não demonstram risco específico para humanos, baseados em estudos convencionais de toxicidade29 de dose repetida.
Embriotoxicidade/teratogenicidade:
Investigações sobre a embriotoxicidade, utilizando a associação das duas substâncias ativas, não mostraram sinais30 indicativos de efeitos teratogênicos31, seguindo o tratamento durante a organogênese, antes do desenvolvimento dos órgãos genitais externos. A administração de doses elevadas de acetato de ciproterona durante a fase de diferenciação sexual, que é dependente de hormônios, promoveu sinais30 de feminilização em fetos masculinos. A observação do recém-nascido do sexo masculino, exposto ao acetato de ciproterona no útero32, não mostrou quaisquer sinais30 de feminilização. Entretanto, a gravidez33 é uma contra-indicação ao uso de Selene® (etinilestradiol + acetato de ciproterona).
Genotoxicidade e carcinogenicidade:
Reconhecidos testes de primeira linha para genotoxicidade apresentaram resultados negativos, quando conduzidos com acetato de ciproterona. No entanto, testes posteriores mostraram que o acetato de ciproterona foi capaz de produzir aductos com DNA (e um aumento da atividade reparadora do DNA) em células12 hepáticas34 de ratos e macacos e também em hepatócitos humanos recém-isolados; o nível de aducto-DNA em células12 hepáticas34 de cães foi extremamente baixo.
Esta formação de aducto-DNA ocorreu em exposições sistêmicas que poderiam ser esperadas de ocorrer em regimes de dose recomendada de acetato de ciproterona. As consequências in vivo, do tratamento com acetato de ciproterona, foram o aumento da incidência35 de lesões36 hepáticas34 focais, possivelmente pré-neoplásicas37, nas quais as enzimas celulares foram alteradas em ratas e um aumento da frequência de mutação38 em ratas transgênicas, portadoras de um gene bacteriano como alvo para mutações.
A experiência clínica e ensaios epidemiológicos bem conduzidos até o momento não apoiariam uma incidência35 aumentada de tumores hepáticos no homem. Investigações sobre a tumorigenicidade do acetato de ciproterona em roedores não revelaram qualquer sinal39 indicativo de potencial tumorigênico específico. Entretanto, deve-se ter em mente que esteróides sexuais podem estimular o crescimento de certos tecidos e tumores dependentes de hormônio40. Em geral, os achados disponíveis não mostram qualquer objeção ao uso de Selene (etinilestradiol + acetato de ciproterona) em humanos, se utilizado de acordo com as instruções para a indicação e na dose recomendada.
- INDICAÇÕES
Para o tratamento de distúrbios andrógeno9-dependentes na mulher, tais como a acne5, principalmente nas formas pronunciadas e naquelas acompanhadas de seborréia6, inflamações41 ou formações de nódulos (acne5 papulopustulosa, acne5 nodulocística); alopecia8 androgênica; casos leves de hirsutismo7; síndrome42 de ovários43 policísticos (SOP).