CARACTERÍSTICAS CAPTOPRIL
Modo de AçãoO exato mecanismo de ação do captopril ainda não foi completamente elucidado. Os efeitos benéficos do captopril na hipertensão1 e na insuficiência cardíaca2 parecem resultar principalmente da supressão do sistema renina-angiotensina-aldosterona, resultando em concentrações séricas diminuídas de angiotensina II e aldosterona. Entretanto, não há uma correlação consistente entre os níveis da renina e a resposta à droga. A redução da angiotensina II leva a uma secreção diminuída de aldosterona e, como resultado, podem ocorrer pequenos aumentos de potássio sérico, juntamente com perda de sódio e fluidos.
A enzima3 conversora de angiotensina (ECA) é idêntica à bradicininase e o captopril também pode interferir na degradação da bradicinina4, provocando aumentos das concentrações de bradicinina4 ou de prostaglandina5 E2.
Farmacocinética
O captopril é rapidamente absorvido por via oral; os picos sangüíneos ocorrem em cerca de 1 hora. A absorção mínima média é de aproximadamente 75%. A presença de alimento no trato gastrintestinal reduz a absorção em cerca de 30 a 40% portanto, captopril deve ser administrado 1 hora antes das refeições.
Aproximadamente 25 à 30% da droga circulante liga-se às proteínas6 plasmáticas. A meia vida de eliminação aparente no sangue7 é, provavelmente, menor do que 3 horas. Mais de 95% da dose absorvida é eliminada na urina8: 40 a 50% como droga inalterada e o restante, como metabólitos9 (dímero dissulfeto do captopril e dissulfeto captopril-cisteína). O comprometimento renal10 pode resultar em acúmulo da droga. Estudos em animais indicam que o captopril não atravessa a barreira hemato-encefálica11 em quantidades significativas.
Farmacodinâmica
Reduções máximas da pressão arterial12 são freqüentemente observadas 60 à 90 minutos após administração oral de uma dose individual de captopril. A duração do efeito é relacionada à dose. A redução da pressão arterial12 pode ser progressiva; assim, para se atingir os efeitos terapêuticos máximos, podem ser necessárias várias semanas de tratamento. Os efeitos hipotensores do captopril e dos diuréticos13 tipo tiazídicos são aditivos. A pressão arterial12 é reduzida com a mesma intensidade, tanto na posição ereta, quanto supina. Os efeitos ortostáticos e taquicardia14 são infreqüentes, porém, podem ocorrer em pacientes com depleção15 de volume. Não foi observado nenhum aumento abrupto da pressão arterial12 após a interrupção súbita de captopril. Em pacientes com insuficiência cardíaca2, demonstrou-se reduções significativas da resistência vascular16 periférica (sistêmica) e da pressão arterial12 (pós-carga), redução da pressão capilar17 pulmonar (pré-carga) e da resistência vascular16 pulmonar. Demonstrou-se aumento do débito cardíaco18 e do tempo de tolerância ao exercício (TTE). Estes efeitos clínicos e hemodinâmicos ocorrem após a primeira dose e parecem persistir durante todo o período da terapia. Observou-se melhora clínica em alguns
pacientes onde os efeitos hemodinâmicos agudos foram mínimos.
Estudos Clínicos
captopril foi o primeiro inibidor da Enzima3 Conversora de Angiotensina (ECA) a comprovar eficácia na prevenção da morbidade19 e da mortalidade20 decorrentes da hipertensão1. O estudo CAPPP "Captopril Prevention Project" foi um estudo prospectivo21, randomizado22, de tipo aberto, com avaliação cega dos objetivos finais. Foram incluídos 10.985 pacientes, com idades entre 25 e 65 anos, com pressão arterial diastólica23 igual ou superior a 100 mmHg, foram randomizados para captopril ou para o tratamento anti-hipertensivo convencional (diuréticos13, beta-bloqueadores).
O captopril e o tratamento convencional não diferiram quanto à eficácia na prevenção da morbidade19 e mortalidade20 cardiovasculares (RR=1,05, p=0,52). captopril reduziu o risco de eventos cardiovasculares fatais (RR=0,77, p=0,091). captopril reduziu o risco de desenvolvimento de diabetes mellitus24 (RR=0,86; p=0,040). Nos pacientes hipertensos e diabéticos captopril reduziu o risco de eventos cardíacos totais (RR=0,54; p=0,034). Nos pacientes hipertensos recém-diagnosticados, ou seja, sem tratamento anti-hipertensivo prévio, captopril reduziu o risco de desenvolvimento de diabetes mellitus24 (RR=0,78, p=0,041) e também reduziu o risco de eventos cardiovasculares fatais em 46% (RR=0,54, p=0,015).
O tratamento com captopril resultou em melhoria da sobrevida25 a longo prazo e dos resultados clínicos no estudo SAVE - "Survival and Ventricular Enlargement", com 2.231 pacientes com infarto do miocárdio26.
O estudo multicêntrico, randomizado22, duplo-cego, controlado por placebo27, envolveu pacientes (com idade entre 21-79 anos) que demonstravam disfunção ventricular esquerda (fração de ejeção ? 40%) sem manifestação de insuficiência cardíaca2.
Especificamente, o captopril reduziu:
- todas as causas de mortalidade20 (redução do risco em 19%, p = 0,022);
- a incidência28 de morte cardiovascular (redução do risco em 21%, p= 0,017);
- manifestações de insuficiência cardíaca2, onde se faz necessário a introdução ou o aumento de digitálicos e diuréticos13 (redução do risco em 19%, p = 0,008) ou da terapia com inibidores da Enzima3 Conversora de Angiotensina (ECA) (redução do risco em 35%, p < 0,001);
- casos de hospitalização por insuficiência cardíaca2 (redução do risco em 20%, p = 0,034);
- casos de infarto do miocárdio26 clínico recorrente (redução do risco em 25%, p = 0,011);
- a necessidade de condutas de revascularização coronariana (revascularização cirúrgica do miocárdio29 e angioplastia30 coronária transluminal percutânea - redução do risco em 24%, p = 0,014).
O captopril melhorou a sobrevida25 e os resultados clínicos mesmo quando adicionada a outras terapias pós-infarto do miocárdio26, tais como com trombolíticos, beta-bloqueadores ou ácido acetilsalicílico.
Os mecanismos pelos quais o captopril resulta nessas melhorias incluem a atenuação da dilatação progressiva e da deterioração da função do ventrículo esquerdo e a inibição da ativação neuro-humoral31.
Em estudo multicêntrico, duplo-cego, controlado por placebo27 em 409 pacientes com diabetes mellitus24 insulino-dependentes, retinopatia e proteinúria32, com ou sem hipertensão1 (permitiu-se o tratamento com agentes anti-hipertensivos convencionais para se obter o controle da pressão arterial12), o tratamento com captopril resultou em redução de 51% do risco de duplicação da creatinina33 sérica (p? 0,01), além da redução em 51% do risco de morbidade19/mortalidade20 no estágio final da doença renal10 (diálise34 ou transplante renal10) ou morte (p? 0,01).
Os efeitos do tratamento com captopril sobre a manutenção da função renal10 são adicionais a qualquer benefício alcançado a partir da redução da pressão arterial12.
Nos pacientes com diabetes mellitus24 e microalbuminúria35, o captopril reduziu a taxa de excreção da albumina36 e atenuou o declínio da taxa de filtração gromerular durante 2 anos de tratamento.